Uma coisa me choca entre nós, cristãos evangélicos: somos realmente muito hábeis em presumir sempre o pior dos nossos irmãos. E o fato é que fazemos isso sem qualquer evidência realmente concreta de que tenha havido alguma falha flagrante ou qualquer outro erro grave.
Veja: o casal se separa, logo concluem: “Houve adultério!” O irmão não está dizimando, o discurso é: “Está roubando a Deus. É infiel!” A pessoa discorda do pastor nalguma opinião: “Está “tocando” o ungido do Senhor”.
Como professor de Bíblia e Teologia, sempre digo a meus alunos e colegas que também laboram nesta área: “Nós tratamos relações humanas na igreja como matemática, tipo 2 + 2 = 4 e ponto final”. Mas o fato é que em relações humanas o resultado que parece óbvio nem sempre fecha.
Há outras possibilidades a serem consideradas nas circunstâncias que envolvem nossas vidas na presença do Senhor. É possível sim acontecer um divórcio mesmo que não haja traição. É possível sim que alguém não esteja dizimando porque está enfrentando séria crise financeira em seu lar (alguns até com falta de coisas básicas!). É possível sim que o irmão discorde do pastor e mesmo assim continue o amando.
Na verdade, esse tipo de cobrança que vemos na realidade eclesial, hoje, só reflete – a meu ver – o quanto nos distanciamos do Evangelho. Tornamo-nos extremamente cuidadosos de elementos doutrinários e da ortodoxia em geral, mas absurdamente cegos para ver e surdos para ouvir a condição do nosso próximo que, não poucas vezes, sofre e precisa de pessoas predispostas a seguir o ensino do Mestre em Mateus 5.38-42, ou o ensino constante em Romanos 12.15.
Joshua Harris (2013) tem razão ao afirmar que “verdades ortodoxas são o prumo que nos mostra como pensar com retidão em um mundo tortuoso”. Mas também concordo plenamente com ele ainda nas palavras que se seguem, com as quais finalizo esta reflexão: “Os cristãos precisam ter um compromisso firme com a sã doutrina. Precisamos ser corajosos em nossa posição em favor da verdade bíblica. Mas também precisamos demonstrar graça em nossas palavras e em nossas interações com as pessoas” (HARRIS, Joshua. Ortodoxia humilde: defendendo as verdades bíblicas sem ferir pessoas. Trad.: Caio Peres. São Paulo: Vida Nova, 2013, p. 19).