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Sociedade adoecida

EM FOCO

Roney Cozzer
Roney Cozzer
Roney Cozzer é presbítero vinculado a Assembleia de Deus Central de Porto de Santana, Cariacica, ES (Pr. Evaldo Cassotto), autor, professor de Teologia e palestrante. Possui graduação em Teologia, concluiu o Curso de Extensão Universitária “Iniciação Teológica” da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e possui formação em Psicanálise. É mestre em Teologia pelas Faculdades Batista do Paraná (FABAPAR) na linha de pesquisa Leitura e Ensino da Bíblia. Participou como autor e pesquisador do Projeto Historiográfico do Departamento de Missões das Assembleias de Deus do Vale do Rio Doce e Outros (DEMADVARDO) entre os anos 2016 e 2018. Cursa licenciatura em Letras pela Uninter e atua como coordenador pedagógico do curso de Teologia na modalidade a distância da Faculdade Unilagos (RJ).Contatos e Atividades na Internet: roneyricardoteologia@gmail.com | Blog Fundamentos Inabaláveis

Sociedade

É preciso ter coragem para seguir na contramão das tendências

Por Roney Ricardo Cozzer

É notável o crescimento do interesse das pessoas pelos serviços de profissionais da Psicologia e da Psicanálise. Percebe-se que hoje há uma abertura maior, inclusive nas camadas mais pobres da sociedade, para este tipo de ajuda especializada. A atração pelo divã está na mente de gente que, anos atrás, jamais aceitaria abrir seu arquivo pessoal, íntimo, para um estranho, ainda que fosse alguém treinado para lidar com isso, no caso um psicólogo ou psicanalista. Até mesmo na Igreja essa resistência vem diminuindo. Mas curiosamente – assim percebo – nossas “engrenagens” sociais são cada vez mais adoecedoras. E talvez por isso mesmo estas profissões se tornem cada vez mais relevantes.

Esse adoecimento pode ser percebido nos fatores alistados a seguir e que, embora não sejam aqui apresentados como dados estatísticos, podem ser observados na convivência diária entre as pessoas.

Mecanismo de defesa excessivamente armado.

Algumas pessoas, visando preservar sua própria integridade, respondem até ao que não lhes foi perguntado. E o fazem por que presumem sempre o pior das pessoas. Deliberam e tiram conclusões de coisas que nem aconteceram ainda. E por mais que seja verdade que por vezes pessoas nos decepcionam, ainda sim é preciso acreditar. Ouça! Dê uma chance. A linguagem, como escreveu alguém, é uma fonte de mal-entendidos. Considere a possibilidade de não ter compreendido bem o que tencionaram lhe dizer e caminhe a segunda milha, como ensinou o Mestre. No fundo, esse mecanismo de defesa psicológica muitas vezes nada mais é do que o reflexo de uma personalidade egoísta que busca auto afirmar-se.

Utilitarismo nas relações.

Ocorre quando as pessoas mediam suas relações visando extrair algum benefício do outro. Quando um objeto não nos é mais útil, o descartamos. Simples assim. Mas este modus operandi foi transferido para as nossas relações. Desfazemo-nos de pessoas como se descarta coisas. E isso acontece, inclusive, na Igreja. É só olhar ao lado e ver aquela pessoa que se divorciou, que cometeu algum pecado, que discordou da liderança, que foi achado faltoso nalguma questão… note como nós as colocamos na “periferia”. Temos muita dificuldade para aceitar o fato de que conviver com alguém que pecou ou errou pode ser uma forma de ajudá-la a se reerguer. Não é boicotando – como costumeiramente fazemos – que estaremos estendendo à elas o amor restaurador de Deus em Cristo. Lembremo-nos de que “o filho do trovão” se converterá no “apóstolo do amor”, o truculento Pedro, pronto a sacar a espada, no solícito pastor que escreve aos “amados” e o “touro selvagem” Saulo naquele que levaria em seu próprio corpo as marcas por causa do Evangelho de Cristo. A lógica do Evangelho é oposta à lógica do utilitarismo social que presenciamos hoje: se investe numa pessoa pelo que ela virá a ser e não pelo que ela pode ofertar no agora. Pensemos nisso…

Polidez “diplomática”.

Sim! Aqui está um inimigo poderoso. Ele é super eficaz para esconder o homem ou a mulher por trás das palavras bem colocadas e das reações corporais bem treinadas. Um amigo dia desses me disse algo curioso: comentou que alguém lhe aconselhou a fazer teatro para poder lidar melhor com as pessoas. Chegamos mesmo neste ponto? Convivemos com pessoas ou com autômatos? Marcará a Pós-Modernidade o fim da poesia? Pois a poesia revela almas, desnuda sentimentos, conecta corações e revela intenções. Nosso tempo, contudo, parece ter ojeriza à isso. Parece que essa tendência nos levou a rejeitar as pessoas como elas são de fato, já que convivemos apenas com estereótipos. Essa “estrutura” que as pessoas colocam sobre si mesmas todos os dias para sair de casa nem sempre é fácil de ser sustentada e mais cedo ou mais tarde, o homem ou a mulher por baixo dela virá à tona. E quando isso acontece, o choque se estabelece, pois se perceberá quem se é de fato. Relações verdadeiras são marcadas por transparência, cumplicidade, conflitos, compartilhamento, lágrimas, saudades, o reconhecimento de qualidades e de imperfeições. Utópico? Não! Ainda há pessoas que decidiram não se encaixar nesta “formatação”. Essa polidez “diplomática” chegou também no ambiente cristão. Não aceitamos que um homem de Deus e que uma mulher de Deus sejam um homem e uma mulher. Todos podem pecar, menos eles. Todos podem chorar, menos eles. Todos podem se irar, menos eles. Todos podem ter que lidar com impulsos, menos eles. Todos podem sangrar, menos eles. “É preciso manter o status quo”, dizem. Particularmente, defendo uma “Teologia pé no chão”. Eu, você e todos nós sabemos que isso simplesmente não funciona na prática. É muito belo até o discurso, mas os “brutos também amam”, Superman tem a kriptonita e todos sem exceção lidamos com algum tipo de limitação.

Essas e outras características delineiam a nossa sociedade, infelizmente. Uma sociedade que está doente e que de alguma forma nos adoece também, já que estamos inseridos nela. Todavia, precisamos ter coragem de ir na contramão dessas tendências. Podemos ser levados por essa “onda” ou decidir fazer a diferença por meio de hábitos e convicções que, embora contrários ao espírito de uma época, são libertadores. Essas convicções nos permitem ser pessoas livres dessas amarras tão doentias e pesadas. A convicção de que é necessário amar a Deus, ao próximo e ajudar de forma desinteressada. A convicção de que as pessoas podem errar, mas que podem ser curadas e restauradas. A convicção de que podemos sim nos relacionar com o outro de forma sincera e franca, visando o bem comum. Fazendo assim, certamente caminharemos como uma sociedade mais saudável. Por mais que toda ajuda profissional seja muito bem-vinda, creio que voltar à uma vida simples, desprovida de tantas “armas” e mecanismos de defesa (e de ataque também!), continua sendo um caminho para sermos pessoas mais felizes e saudáveis emocionalmente.

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