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Por uma fé menos mágica e mais madura

EM FOCO

Matheus Henrique Silva Cruz
Matheus Henrique Silva Cruzhttps://www.searanews.com.br
Bacharel em teologia pela Universidade Metodista de São Paulo. Possui Licenciatura em História e Pós-graduação em africanidades e cultura afro-brasileira pela UNOPAR.
Por uma fé menos mágica e mais madura
Tempestade no mar | Foto: Pinterest

Quanto maior a escassez de recursos, mais místico será o povo ( Autor Desconhecido)

Por Matheus Henrique Silva Cruz

Mas o que isso de fato significa? Quanto maior for a crise instalada, seja ela política, urbana, social, econômica e ambiental; maior será a tendência de o povo desse meio buscar desesperadamente por soluções mágicas que resolvam seus problemas de um instante para o outro. Nosso Brasil preenche todos os requisitos de crise.

Um país castigado por chagas sociais que parecem incuráveis. Com uma massa de milhões de desempregados, de despejados, de desenganados pela medicina, em filas intermináveis á espera de doadores de sangue e de órgãos. Sem contar o caos urbano, a violência e as tragédias. Este é o cenário perfeito para que uma sociedade se torne vulnerável e inclinada para aderir a todos os tipos de modismos religiosos que prometam soluções imediatas. Não é à toa que nosso povo é tão dado a misticismos.

A exemplo disso temos o fenômeno do neopentecostalismo. A razão de ser desse movimento consiste na comercialização da fé em busca de experiências místicas. Como todo movimento importado dos EUA para o Brasil, o neopentecostalismo trouxe consigo muito da herança norte-americana, na qual podemos destacar, um estilo de vida tendo o consumo como um caminho para a plena felicidade. Essa forma de ver o mundo, encara o que estiver pelo caminho como um mero produto a ser consumido, sobrando até mesmo para a fé.

Por conta disso, o fiel age e pensa a si mesmo como um cliente de Deus. Sua fé é a moeda que ele usa para tentar conseguir as bençãos que deseja alcançar. Deus, de um ser autônomo e livre, é tratado como um servo, um tipo de gênio da lâmpada, que deve atender seus “Clientes” da melhor forma possível, dando a eles o que estão buscando. Desse modo, a fé vira uma moeda de troca, a igreja um grande balcão de negócios, o culto um leilão de bençãos, e Deus, o balconista.

Os clientes são bem exigentes. Possuem uma espiritualidade infantilizada, não aceitam ouvir um não como resposta. Seguem mestres que combinam com seus próprios desejos egoístas e individualistas (2Tm 4.3). Fabricaram um deus segundo a imagem e semelhança de si próprios e o ergueram como um novo Bezerro de Ouro. Em consequência disso, o culto em muitos casos, se resume a uma prática de ritos em busca por benefícios, com finalidades cada vez mais gananciosas.

O produto desse contexto não poderia ser diferente, os crentes ficaram cada vez mais mimados. Esse tipo de fé imatura, tornou essa geração de cristãos completamente despreparada para lidar com as adversidades. É cada vez mais comum quando as coisas começam a desandar, ouvir pessoas reclamando por não entenderem o motivo de estarem passando por isso. Sentem que deviam estar blindadas contra problemas já que estão sempre “em dias” com o dízimo, as ofertas, a caridade e as orações. Tratam essas práticas como  um tipo de “Seguro Total”, que deveria cobrir tudo eliminando todos os problemas.

Os grupos desse modelo de fé se recusam a acreditar que se relacionar com Deus não quer dizer estar livre de dificuldades, doenças, acidentes, roubos e as demais contingências e aleatoriedades que estamos sujeitos vivendo nesse mundo. Não é interessante para os líderes e disseminadores de doutrinas desses círculos ensinarem textos como o de Eclesiastes 9.2:

“Todos partilham de um destino comum: sejam homens honestos ou desonestos,
bons ou maus, puros ou impuros, os que oferecem sacrifícios e os que não oferecem.
O que acontece com o homem bom, acontece com o pecador;
o que acontece com quem faz juramentos, acontece com quem não os faz”.

Não foram poucas às vezes em que Jesus nos avisou dizendo que os seus no mundo seriam como ovelhas no meio de lobos (Mt 10.16) e que teríamos aflições (Jo 16.33). Mesmo com tantas vacinas, a vaidade de se considerar superior e digno de um tratamento exclusivo da parte divina se proliferou como um vírus. Por essa causa, há tantas pessoas frustradas com a fé, como se tivessem acreditado em um esquema fraudulento, em uma propaganda enganosa. Quando na verdade, esse é apenas um “outro” evangelho, que no fim das contas nem é Evangelho (Gl 1. 6 e 7).

Enquanto esse “outro evangelho” ensina que o fim maior da fé cristã é ter a doença curada, o livramento e a porta aberta, vemos no próprio Jesus um discurso diferente. Apesar das inevitáveis aflições, Ele nos disse para termos “bom ânimo” (Jo 16.33). A palavra grega para ânimo é tharseõ, que implica “ser de boa coragem”. Ter coragem diante das aflições é muito além de querer se livrar delas através da busca por soluções mágicas, mas quer dizer enfrentá-las, encará-las nos olhos e lidar diretamente com cada uma delas. 

O fim maior do Evangelho não está na busca por intervenções milagrosas de Deus. Isso pode até parecer fé, mas também pode significar uma espiritualidade que depende das circunstâncias para se ter certeza no que se crê.

Enquanto isso, o Evangelho de Jesus nos prepara para a hora em que o médico vai balançar a cabeça em um sinal negativo, dizendo que não há cura. O Evangelho nos prepara para o dia mal (Ef 6.13). Quando a perca por aquilo que não pode voltar chega a nossa casa. Quando a porta não se abre. A notícia ruim chega. As aleatoriedades negativas da vida nos sucedem. Quando nem mesmo no fim do túnel parece haver luz. Ainda sim, permanecemos. Resistimos. Não nos desesperamos. Porque nos foi dito para termos coragem, afinal Ele venceu o mundo (Jo 16.33); e a fé madura também vence qualquer dia mau.

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