Escola Dominical – Comentário de apoio da Lição 4, do 4º trimestre de 2020 – O drama de Jó.
Aniel Ventura
A história de Jó mostra muitos questionamentos, dúvidas aterrorizantes e angústia verdadeira, experimentados por alguém que realmente estava em sofrimento. E não somente isso. Esta história tem uma mensagem que pode nos ajudar nos momentos em que estamos cercados de problemas e dificuldades, pois nos faz ter uma ideia da perspectiva divina do nosso sofrimento. Vários detalhes no livro de Jó indicam que os fatos narrados sobre o homem de Uz são sem dúvidas verdadeiros.
I – TRAGÉDIA DE NATUREZA ECONÔMICA
Jó era rico e, não obstante, piedoso. Ainda que seja difícil e incomum, podemos afirmar que não é impossível um homem rico entrar no reino dos céus: Jó é um exemplo disso, pois, pela graça de Deus, podemos vencer as tentações das riquezas da terra e viver uma vida piedosa agradando ao Senhor (Rm 8.28).
Jó era um homem incomparável e de merecida prosperidade. Excedia em piedade, extremamente rico, fiel tanto como marido quanto como pai. Um homem de sucesso na agricultura e na pecuária, um homem de negócios. Entretanto, a sucessão de desastres que o assaltaram de uma só vez, seria suficiente para acabar com qualquer um de nós hoje.
O homem mais rico do oriente vai à falência, fica sem lar, indefeso e sem filhos. A cena é dramática, Jó vê-se junto às sepulturas de seus filhos numa colina batida pelo vento, quando sua esposa soluça ajoelhada ao seu lado, ouvindo ele dizer: “O Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!” (Jó 1.21). Nesse momento, ela se inclina sobre ele e sussurra em seu ouvido um segredo: “Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2.9).
II – TRAGÉDIA DE NATUREZA FAMILIAR
O homem de Uz era respeitado pelos que o rodeavam, quer dentro ou fora da família. Era reto. Respeitava a Deus e evitava constantemente o mal. Era um homem de caráter. No que se referia à família, Jó foi abençoado com sete filhos e três filhas. Na ocasião em que a história de Jó foi contada, os filhos já eram adultos. Jó estava vivendo em seu apogeu (Jó 1.1-5).
“Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2.9). O conselho da esposa de Jó exprime o âmago de sua prova da fé. Em todo o livro, a profunda angústia de Jó causada pelo sofrimento aparentemente injusto da parte de Deus tentava-o a renunciar sua fidelidade a Deus, e deixar de confiar nele como um Deus compassivo e misericordioso (Jó 5.11).
A vida piedosa do patriarca levou Satanás a reagir ante a declaração de Deus, de ser Jó um homem piedoso, e acusou tanto a Jó quanto a Deus. Satanás questionou os motivos de Jó e a veracidade da sua retidão, afirmou que o amor que Jó tinha a Deus era egoísta e que ele adorava a Deus tirar proveito disso. Satanás disse que o amor de Jó por Deus não era sincero. Satanás insinuou, ainda, atrevidamente que Deus era ingênuo, que se deixara enganar, e que obtivera a devoção de Jó mediante a concessão de bênçãos e suborno (Jó 1.10,11).
III – TRAGÉDIA DE NATUREZA FÍSICA E PSICOLÓGICA
Deus permitiu Satanás a fazer provas, mas com limites. Da mesma forma, se Deus não nos desse poder contra o que ruge como leão, ele prontamente nos devoraria! Jó, foi caluniado por Satanás, foi um tipo de Cristo, cuja primeira profecia foi que Satanás lhe feriria o calcanhar, mas teria a cabeça ferida e seria vencido pelo poder de Deus (Gn 3.15).
A enfermidade de Jó era terrível e muito dolorosa. Se somos provados com doenças penosas e doloridas, não creiamos que seremos tratados de maneira diferente da que o Senhor Deus às vezes trata o melhor de seus santos e servos. Jó humilhou-se debaixo da poderosa mão de Deus e nivelou sua mente ao seu estado. Ainda hoje Satanás procura tirar os homens da presença de Deus, como fez com os nossos primeiros pais, a fim de provocá-los com pensamentos de tentação. “Se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1.7).
Jó se sentiu solitário, humilhado e psicologicamente abalado. Seu maior sofrimento era o sentimento de que Deus o abandonara. No seu discurso, Jó disse a Deus exatamente como se sentia (Jó 3.2-26). Começou maldizendo o dia em que nasceu e sua vida de sofrimento, mas em tudo isso Jó não blasfemou contra Deus. Seu lamento era uma expressão de dor e desolação, porém não de revolta contra Deus. Podemos levar a Deus nossas aflições e angústias, e invocarmos a sua compaixão. O próprio Cristo perguntou a Deus se identificando com os seres humanos: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46; Jr 20.14-18; Lm 3.1-18).
CONCLUSÃO
Jó reagiu às fatalidades que lhe aconteceram, com intensa aflição; mas, também, com humildade, submeteu-se a Deus e continuou a adorá-lo em meio à mais severa adversidade (Jó 1. 21; 2.10).
O livro de Jó demonstra como o crente fiel deve enfrentar os contratempos da vida. Podemos enfrentar sofrimentos severos e aflições inexplicáveis, mas a vitória virá com oração, suplicando graça para aceitar o que Deus permitir que soframos.
Podemos pedir também a revelação e compreensão do que está acontecendo conosco. Deus cuidará dos nossos sentimentos e lamentos, se os levarmos a Ele, com humildade e sincera confiança nele como um Deus amoroso. Esse livro revela que Deus aceitou bem as indagações de Jó e que, no final, declarou que Jó falara “o que era reto” (Jó 38-41; 42.7).
Se Abraão foi chamado “o amigo de Deus”, Jó é declarado, perante as hostes do céu, o servo de Deus sobre a terra.