O Coronavírus tem sido a prioridade de todos neste primeiro semestre de 2020, mas os médicos alertam para a importância de as pessoas prestarem atenção em outras enfermidades. Como as doenças cardiovasculares que mais matam no Brasil e que teve aumento de 31% durante a pandemia, segundo dados de Cartórios de Registro Civil brasileiros.
As causas são não só as complicações trazidas pelo novo coronavírus, mas também as alterações que ele pode gerar no sistema imunológico, como estado inflamatório crônico latente. Assim, o apelo é para que toda pessoa que sinta qualquer sintoma de infarto ou acidente vascular cerebral (AVC), procure ajuda médica imediatamente. Nesses casos, o isolamento social não deve ser observado.“Em 18 de março a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) alertou para o aumento da mortalidade que as doenças cardíacas causam em infectados pelo novo coronavírus. Estamos atentos ao aumento de mortes por medo de procurar ajuda. Ainda não registramos aqui, mas em outros países, sim. Os hospitais registraram queda nas internações por outras doenças. E aumentaram as paradas cardíacas fora dos hospitais”, afirma Marcelo Queiroga, presidente da SBC.
Outras Doenças
Os números no exterior realmente corroboram a preocupação dos médicos. “Foram registradas reduções de internações por infarto da ordem de 38% nos EUA e 40% na Espanha. Aqui não deve ser tão diferente. Pode ser porque não procuraram o atendimento, erros de diagnóstico e colapso de saúde”, afirma Luísa Brant, professora da Faculdade de Medicina da UFMG.
Até por isso, a Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista lançou a campanha “Infarto não respeita quarentena”, alertando para a necessidade de se procurar ajuda médica quando a pessoa sentir os sintomas. “Temos de levar a mensagem de alerta para a população, pois estamos vivendo uma situação muito preocupante”, afirma o presidente da entidade, Ricardo Costa.
Diagnósticos suspeitos
Segundo ele, na pandemia, procedimentos fundamentais para salvar vidas, como angioplastias de emergência, chegaram a cair 70% no país, o que é muito preocupante. “A suspeita é que pacientes, mesmo com sintomas de infarto, estavam deixando de buscar atendimento com receio de serem contaminados pelo novo coronavírus em ambiente hospitalar. Assim, muitos morreram em casa ou chegaram ao atendimento com quadro muito evoluído e sem chance de receber o tratamento adequado.”
Os números – menos 14% de morte por infarto e 5% de AVC – até poderiam sugerir que a população está mais saudável durante a pandemia. Porém, há certeza de sub-notificação, pois as “causas inespecíficas” subiram quase 25%. “Casos de infarto e AVC podem estar embutidos aí, não acreditamos em diminuição, mas na subida nos números”, afirma Luísa Brant. “A forte correlação entre o aumento de mortes cardiovasculares e domiciliares não especificadas corrobora essas explicações, pois pode sugerir que pelo menos algumas das mortes por infarto e AVC ocorreram em casa, impedindo o diagnóstico correto. Por outro lado, eventos cardiovasculares agudos podem ter diminuído em alguns locais, devido a riscos competitivos e menor exposição a gatilhos secundários de eventos cardiovasculares, como a poluição do ar”, explica Queiroga.
Além disso, há uma hierarquia a ser seguida nos atestados de óbito. Segundo ela, se um paciente tem COVID-19 e infarto, a morte será registrada como decorrente da infecção pelo novo coronavírus.
Para tentar trazer mais clareza para as estatísticas, a SBC e a Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (Arpen-Brasil) fizeram acordo para disponibilizar na internet um novo módulo que traz os números de óbitos por doenças cardiovasculares desde o início da pandemia. “Além da importância epidemiológica, o mapeamento adequado do problema permitirá a adoção de medidas que resultem em diminuição da mortalidade por doenças cardiovasculares”, explica Queiroga.