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Luto, uma triste e dolorosa realidade

EM FOCO

Anne Neves
Anne Neves
Psicóloga, mãe, educadora, serva de Jesus.
Luto, uma triste e dolorosa realidade
Pessoas tristes | Foto: John Loannidis / Pixabay

Luto! Infelizmente temos recebido notícias tristes e dolorosas nos últimos meses. Diversas famílias perderam seus entes queridos, amigos se foram, líderes religiosos partiram.

Tem sido um tempo onde os cristãos tem orado muito para que seu pai, mãe, irmão, tio, sobrinho, sogro, sogra… amigos sejam curados dessa terrível e misteriosa doença.

Contudo, e os que ficam? Como temos cuidado dessas pessoas? Como estão os viúvos, órfãos, pais que perderam seus filhos? As pessoas enlutadas carecem muito de ajuda, acolhimento e oração.

Quando pensamos em luto, temos em mente a perda por morte de alguém muito querido. Entretanto, o luto pode abranger outras áreas da nossa vida. Ele está relacionado a perdas e estas podem ser de pessoas ou de bens materiais. Pode ser o luto pelo fim de um casamento, pelo fim de um sonhado negócio, a perda de algum bem e, obviamente, a morte de um ente querido. Este último é uma perda irreversível, as outras, entretanto podem ser restauradas, reconquistadas. Elas podem voltar a existir com trabalho, dedicação e entrega da nossa parte. Ainda que o casamento não seja refeito, é possível que outro amor venha à sua vida; um negócio pode ser resignificado, recomeçado; um bem pode, após muito trabalho, ser comprado novamente. Mas, uma pessoa não pode voltar à vida, salvo um milagre de Deus.

Contudo, para todas as perdas citadas acima as 5 fases do luto estarão presentes e deverão ser vistas com muita atenção, paciência e cuidado. Brevemente, observa-se as fases do luto e de que forma é possível ajudar quem está enlutado:

1 – Negação

É uma espécie de defesa que a consciência faz de modo a aliviar a dor da realidade. Normalmente é uma fase curta mas, pode aparecer em outros momentos. É comum a pessoa enlutada fugir do convívio social.

É preciso acolher e ouvir com muita paciência e carinho tudo que a pessoa enlutada tem a dizer. Nesta fase o indivíduo repete muitas vezes o momento final de quem se foi. E é bom que ela faça isso, pois esta repetição facilita o contato dela com a nova realidade. A escuta deve ser confiável e paciente.

2 – Raiva/culpa

Aqui a pessoa pode se revoltar de várias formas – consigo (culpa), com quem deu a notícia da perda/morte e até com Deus. Além disso, pode surgir ressentimento e inveja.

É preciso ter muita paciência nesta fase. A raiva pode não aparecer como revolta, mas como uma culpa do que poderia/queria ter feito/dito e não foi. Para ajudar é importante mostrar ao enlutado que a dor não se justifica na culpa/raiva. Os sentimentos não devem ser imanentes ao homem. Não somos nossos sentimentos. Eles fazem parte de nós, contudo, somos capazes de administra-los.

3 – Barganha

Geralmente é uma fase rápida e a pessoa começa a fazer um acordo com Deus desejando que as coisas voltem a ser como antes.

O aconselhável é trazer a pessoa para a realidade e mostrar-lhe que a vida tem um Dono.

4 – Depressão

O sentimento de perda aflora levando a um sofrimento profundo, intenso. É um período de isolamento. A pessoa se conscientiza da perda e sofre muito.

Muita, muita atenção nesta fase pois a pessoa que perdeu alguém terá um marco em sua vida e pode, de fato, prostrar-se. Se perceber que houve uma entrega à dor/sofrimento leve esta pessoa a buscar ajuda psicológica e/ou psiquiátrica.

5 – Aceitação

é a fase final. Ela se instala na realidade, aceita a ida do outro e não se desespera mais. A saudade ocupa o lugar do sofrimento. Falar da perda deixa de ser uma dor intensa.

O luto é um processo de entendimento, de aceitação de uma grande perda. A aceitação da perda/morte de alguém ou alguma coisa se efetiva quando damos a ela um valor transcendente. Ou seja, quando superamos os limites do que é aceitável, quando continuamos a sonhar diante das perdas, quando desenvolvemos a capacidade de desfrutar do que ainda podemos viver, quando nos instalamos na realidade e passamos a enxergar que ainda temos vida e que ela é valiosa para todos que nos amam e, ainda mais, para Deus.

Sim, não é um processo fácil. Todavia, é um processo necessário. Sem a efetivação dele a vida se paralisa e a depressão emerge fortemente. Para vencer o processo do luto, é preciso lutar. E a luta é a vontade de buscar, de descobrir como se vive dignamente diante das perdas, diante de uma realidade que, por hora, fora cruel e dolorosa, entretanto, é irreversível.

O luto e a Bíblia

A Bíblia nos ensina duas grandes lições diante de uma perda. Após Davi se deitar com Bateseba ela fica grávida. Davi, depois de trazer o marido de Bateseba – Urias – da guerra e ela querer deitar-se com ele e este negar-se por fidelidade ao rei, teme seu trono e manda matar Urias. Bateseba vai morar no palácio e, no tempo devido, o filho do adultério nasce. Alguns dias se passam e este filho fica terrivelmente doente. Davi, então, inicia um jejum, rasga suas vestes e ora incessantemente por seu filho. Pouco tempo depois a criança morre. Os servos sussurram a notícia pelo Palácio de modo que Davi não ouça. Mas, ele percebe o burburinho ao redor e pergunta se a criança morreu. Após ele ter a resposta positiva à sua pergunta, ele se levanta, toma um banho, põe suas vestes reais, entra no templo do Senhor e O adora. Em seguida, volta ao palácio e come uma boa refeição. Questionam a ele sobre seu comportamento e ele diz: “Enquanto a criança ainda vivia, jejuei e chorei, porque pensava: quem sabe? Talvez o Senhor me perdoe e a criança viva. Mas, agora ela está morta; por que eu ainda jejuaria? Poderei eu fazê-la voltar? Eu irei para ela, mas ela não voltará para mim” (2 Sm 12.22-23)

Esta parte da história de Davi nos mostrar o quão importante é aceitarmos que o outro se foi e que esta perda é irreversível. Fácil? Não, não é nada fácil. Porém, é a aceitação da perda e a luta por uma vida digna diante da perda que vai lhe ajudar a instalar-se na realidade e amar quem ficou ao seu lado.

Uma outra história de perda que a Bíblia relata está em 2 Sm 21.1-14 que conta a história de Rispa, mulher do rei Saul. Este tinha uma dívida com o povo gibeonita cuja foi paga com a vida dos filhos de Rispa. Após a morte desses filhos, ela fica ao lado deles e não permite que ninguém toque nos corpos deles. Ela fica ali por três meses espantando todo tipo de ave de rapina, sentindo cheiro de morte numa tentativa inútil de reverter o que não é reversível. Rispa, além de estar pecando por tocar em algo morto (já que isso estava escrito na lei de Deus descrita por Moisés), estava deixando de viver e dar continuidade a seu futuro.

Quando não se aceita a vontade de Deus, o comportamento é exatamente como o de Rispa: tenta-se fazer com que Deus volte atrás em sua Suprema vontade.

A Bíblia nos afirma em Lc 1.37 que para Deus não há impossíveis. Entretanto, Deus não pode ir contra sua palavra e o que ele mesmo já estabeleceu.

A irreversibilidade da perda não deve ser um obstáculo para que você deixe de amar quem está vivo ao seu lado e, certamente, precisa de você forte e feliz.

É um erro pensar que a vida cristã é ausência de dor, de sofrimento. Não! A vida cristã é a capacidade de seguir, de amar, de servir mesmo sofrendo. Jesus afirmou: “… no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33).

Busque forças no Senhor para que Ele lhe ajude a amar aqueles que precisam de seu amor, da sua entrega e do seu cuidado. Em Jesus somos fortalecidos.

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