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Informática e liderança pastoral

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Informática e liderança pastoral

Ministério Pastoral – Liderança

Ênio Caldeira Pinto | Instituto Jetro

Em artigo anterior havia comentado sobre a Exigência da sensatez na liderança eclesiástica com ênfase no uso da informática pelos líderes para uma prática pastoral e administrativa mais eficaz. Agora, quero dar duas diretrizes de como tais líderes podem conduzir seu banco de informações a ponto de torná-lo eficiente e, ao mesmo tempo, o fundamento prático para ações ministeriais em sua comunidade.

Antes de determinar quais informações são necessárias para serem armazenadas, convém orientá-los acerca de três mentalidades (acho que são práticas) decorrentes do conceito bíblico de ministério nas comunidades. Tais mentalidades são derivadas de duas palavras gregas para dom, charis e dôrea. A primeira mentalidade tem o significado de presente, dádiva. Trata-se de uma "graça" dada pelo Espírito Santo para que o cristão desempenhe uma função específica. É nesse aspecto que o presente espiritual caracteriza a missão do cristão. Nenhum dom é dado sem visão, missão, ação, alvos e estratégia (planejamento estratégico) claramente definidos por Deus. Dom é presente no sentido de que o cristão é equipado para a ação missiológica.

A segunda mentalidade é decorrente de um desenvolvimento prático na eclesiologia, ou seja, o dom é visto funcionalmente na estrutura da igreja. As comunidades entendem que há algumas "funções" essenciais para a vida da igreja e que não há como fazer missão se essas funções não forem preenchidas. Vamos exemplificar. Muitas denominações estipulam "funções" em suas constituições e regimentos internos, tais como: diáconos e diaconisas, presbíteros e presbíteras, anciãos e anciãs, pastor e pastoras, e outras mais terminologias. De forma estratégica é um ministério onde os cristãos são votados para exercer a função. A comunidade escolhe os seus líderes por voto (aclamação e ou escrutínio secreto) e lhes delega funções bem definidas. Argumenta-se que é um dom dado por Deus e também reconhecido pela comunidade. A maioria dos dons hoje é de caráter funcional, ou seja, os líderes são comissionados preenchendo vagas e ou necessidades. Essa mentalidade não está errada, pois com certeza é o próprio Deus que vai suprindo dia a dia as nossas necessidades (Fp 4:19).

A terceira mentalidade (prática) difere-se das duas anteriores pelo aspecto serviçal. O cristão entende que, pelo seu trabalho, glorifica a Deus, ajuda a comunidade e, em obediência à comissão do Espírito Santo, testemunha do poder divino, evangelizando, proclamando a salvação em Cristo e, esperançosamente, transformando a realidade. É o tipo de dom entendido como ação diaconal (social), evangelística (Palavra) e escatológica (missionária). Há um aspecto distorcido aqui. Alguns entendem que a lista de dons descrita em passagens bíblicas (Rm 12, Ef 4:12 e I Cor 12-14) é que pode ser considerada como ministério que serve ao Senhor e ao próximo. De fato, todos os dons são para o serviço e a melhor maneira de fazer tal verificação é colocá-los na dinâmica pessoal e comunitária.Você poderá questionar-me o porquê dessa breve exposição sobre dom. A justificativa é pela mesma razão que tais mentalidades percorrem as comunidades quando comentam sobre o uso da tecnologia, da informação e de ações modernas de gerenciamento e administração. Nem todo pastor e pastora é administrador, educador, profeta, etc. Mais do que no passado, hoje se pode dizer que há várias modalidades de administração, de educação, de profecia e, obviamente, do próprio pastorado. Mudar opiniões e ser reflexivo é essencial à liderança pastoral eficiente.

Diante das três mentalidades que expus acima, espera-se que o líder saiba agir com sensatez para discernir o ministério a ser desenvolvido enquanto (a) presente/dádiva, (b) função e (c) serviço, da mesma forma que apresento uma modalidade do pastor-líder que saiba usar a informática em seu ministério. A seguir, proponho as diretrizes do uso da informática na liderança pastoral.

1. Explorar o banco de dados, otimizando-o

Embora a linguagem seja bastante técnica, isto é, o informatiquês, há a necessidade de definir a construção de um banco de dados (database) da comunidade de forma a contribuir satisfatoriamente para a liderança pastoral. Há muitas linguagens de programas e também produtos oferecidos por elas no mercado hoje. Há bancos de dados específicos de cadastro de membros, gerenciamento de educação cristã, controle financeiro, administração e gerenciamento ministerial. No entanto, nenhum dos programas existentes é decorrente da discussão conjunta dos líderes com a comunidade. Hoje, mais do que nunca, precisa-se modelar o banco de dados de tal forma a aproveitar ao máximo as informações geradas.

Para isso, é preciso que os líderes juntos com a congregação definam que tipo de informação precisa ser armazenado. A entrada de dados em um sistema (input) é definida por questões próprias e privadas de um grupo, pois a disponibilização desses dados será comum a todos (output). O que é relevante e irrelevante pode ser definido pela necessidade e uso da informação. Registrar as sessões de aconselhamento e atendimento pastoral é uma fonte inesgotável para reflexão e planejamento de ministérios. Cadastrar os sermões, os estudos bíblicos e palestras podem se tornar em blocos seletos e temáticos dos desafios da comunidade, entre outros.

Um projeto de banco de dados deve ser pensado e estruturado a partir de uma teologia da missão integral, ou seja, pensa-se na diversidade de informações que o cristão pode fornecer. Coletam-se dados sobre a vida familiar, a experiência religiosa, o nível de escolaridade, a profissionalização, as habilidades artísticas, intelectuais e físicas. Mais ainda, deve-se articular um banco de dados que possa interagir com demais projetos ministeriais da comunidade e/ou da denominação, de organizações diversas e departamentos governamentais. Uma estratégia evangelística para o crescimento de igreja, muitas vezes, só é desenvolvida pensando em alguns membros, enquanto os demais nem ficam conhecendo o projeto. Uma comunidade, por exemplo, que consegue colocar 10% dos membros em atividade missionária (interação com missionários nos campos, assistência a enfermos, necessitados, estudantes e ecologia) pode coletar informações essenciais para as agências quanto ao cuidado do missionário, auxiliar o tratamento de pacientes em hospitais junto aos médicos e profissionais de enfermagem, assessorar as instituições teológicas a cuidar dos seminaristas e demais estudantes, e, ainda, interagir com as secretarias municipais do meio ambiente com os devidos cuidados com a natureza, entre outras. Uma comunidade conhecedora dos problemas (dificuldades, necessidades, emergências etc) de sua cidade promoverá um ministério eficaz e instalador do reino de Deus. No entanto, é preciso que essa mesma comunidade saiba informar-se e dispor de tais informações para que a ação seja transformadora.

Então, a otimização de um banco de dados para a igreja deve ser direcionada para a criação de ministérios na execução da missão. Primeiro, deve-se atentar-para a coleta de informações dos membros. Dados Pessoais, familiares, filiação eclesiástica, formação acadêmica e profissional, experiência ministerial, problemas de saúde etc definem o perfil de um cristão em uma comunidade. Daí, o pastor-líder saberá o background (pano-de-fundo) de sua comunidade porque dispõe de informações essenciais para construir o histórico de vida (diagnóstico) de cada um.

Assim como nas disciplinas de metodologia exegética é impossível interpretar o texto sem a identificação do Sitz in Leben (situação vital), diria que é catastrófico iniciar um ministério sem o conhecimento dos membros da comunidade. Imagine um líder, sendo informado que um membro de sua comunidade, em estado terminal, precisa de uma visita pastoral, não saber o endereço porque nunca lhe passou em mente ir até lá. Ou uma comunidade, cuja maioria de casais são decorrentes de concubinato, separação, produção independente etc e que no ano eclesiástico a denominação exige que tais pessoas não podem fazer parte do rol de membros – que tipo de ministério essa comunidade iria definir? Pior ainda, é esse líder participar de uma reunião anual para tratar de forças e orçamentos que definirá os campos missionários, mas desconhece da realidade econômica de cada comunidade. Muito desses problemas já seriam previamente resolvidos ou haveria maior propostas de solução se o líder tivesse em mãos relatórios que indicassem a "situação" da comunidade.

A otimização do banco de dados deve colher informações e disponibilizá-las à própria comunidade. Por exemplo, se o líder souber que cerca de 20 pessoas de sua comunidade moram no mesmo bairro e que vão diariamente para o trabalho, e que entre esses cinco membros possuem carros, com certeza a locomoção seria mais rápida e haveria um carpool (consórcio) entre os próprios irmãos e irmãs. Se o banco de dados provê a escolaridade de cada membro, então, será identificado os professores(as) que poderão ajudar os filhos dos membros com dificuldades em disciplinas escolares. Se houver um arquivo dos pedidos de oração, a lista poderá ser enviada eletronicamente para os membros – interessante aqui é também colocar a data de início da oração e data em que o pedido foi respondido, pois todos poderão ver o envolvimento e crescimento da comunidade na oração. E, se o database dispuser de membros-empresários e profissionais liberais poderá informar aos membros as mudanças econômicas no mercado e ainda ajudar membros na procura de empregos e ofertas de emprego. Há vários exemplos que poderiam ser dados. Resta-nos, apenas, construir um banco de informações que seja útil e disponível à ação cristã no mundo.

2. Tornar o banco de dados um apoio ministerial

Sempre quando chego à minha sala de estudos, na faculdade, ligo o computador e acesso seis programas: (1) a intranet da escola, onde vejo a agenda do dia, as notícias gerais e dos docentes, as mensagens dos demais funcionários e os documentos internos para download; (2) o correio eletrônico, onde vejo as mensagens recebidas de amigos, alunos e demais instituições; (3) o sistema de consulta à biblioteca online da faculdade e respectivo acesso contínuo à internet; (4) o sistema de educação à distância da faculdade verificando mensagens, tarefas e o acesso de aulas, (5) o sistema de telefonia via computador; (6) e o software destinado à pesquisa bíblica, exclusivo de minha área de especialidade.

Sem um computador ligado à internet e sem tais programas, meu acesso às informações fica restrito e o meu desempenho em sala de aula fica reduzido ao sistema tradicional expositivo. Meu personal computer (computador pessoal, pc) é um banco de dados próprio, é, para mim, um apoio ministerial.

Certamente o ministério é feito sem a informática, mas com a sua presença as aplicabilidades e as práticas se tornam mais facilitadas. Todo ministério usa tipos de tecnologias, uns mais avançados, outros menos. O banco de dados é um acessório útil, uma ferramenta à disposição, um auxílio constante para todos os que precisam de informação.

A existência de um banco de dados se dá para a execução da tarefa cristã no mundo. Tudo deve ser justificado missiologicamente, isto é, com um propósito ou objetivos a serem alcançados. Por exemplo, hoje há várias igrejas que têm um retro-projetor (overheadprojector) ou, as mais sofisticadas, um projetor de tela (datashow) que colocam as letras dos cânticos, hinos, textos bíblicos, mapas, imagens diversas e até mesmo o esboço do sermão para a apreciação dos membros. Eis um uso, não somente pedagógico (didático, visual e sonoro), mas, sobretudo, ministerial. Esses equipamentos são apoios ministeriais.

De nada adiantará um banco de dados se seu uso não ajudar no ministério pastoral. Hoje, prioritariamente, o programa curricular de educação cristã de uma comunidade precisa estar disponível a todos os membros. Esse banco de dados precisa, além do controle de cursos, disciplinas, treinamentos dos membros, dos planos de aulas dos professores, e do gerenciamento do desempenho de cada um, demonstrar o uso no meio da comunidade. Por exemplo, se o banco de dados fornece aos professores as informações de cada aluno (membro), o planejamento das aulas será totalmente voltado à solução de problemas deles. Uma vez que as aplicações são diferentes em cada sala de aula, um agrupamento dessas informações ajudará outras comunidades a observar a riqueza da aula assistida. Uma ajuda maior será ao pastor-líder que terá em mãos o desenvolvimento espiritual dos seus membros, além do aperfeiçoamento nas práticas de espiritualidade. Imagine cada sessão de aula ministrada sendo armazenada na igreja – a posteriori os relatórios possibilitarão evitar a sobreposição de conteúdos, a focalização dos conteúdos programáticos e os mecanismos de avaliação docente.

Em uma igreja pesquisada em Londrina, há exatos dez anos que a mesma classe estuda o tema da batalha espiritual. Talvez, pensar-se-ia que este tipo de matéria é essencial porque perdura por todo esse tempo, mas na minha análise, este tipo de conteúdo prova que não resolveu "o problema", nunca foi avaliado o que vem sendo estudado, nem como os membros fazem uso prático. Na verdade, não há integração curricular e nem avaliação pelos responsáveis do ministério de educação cristã. Se há um arquivo desses conteúdos, o líder saberá ler os resultados e determinar as modalidades e renovações ministeriais, caso isso não aconteça, mais uma década continuará com batalha espiritual.

Cada ação cristã resulta na transformação do mundo. Para que isso aconteça, a leitura das informações obtidas através do banco de dados municiará os líderes com racionalidades prático-ministeriais. Haverá uma maior economia de tempo e recursos humanos, seja no comissionamento de cristãos para o serviço, seja na "escolha" prioritária das funções exigidas pelo ministério, ou ainda, seja pela graça (dom, presente) que algum membro venha receber na comunidade. A responsabilidade do líder será a de gerenciar os ministérios, cuja alocação foi feita por ele mesmo verificando-se o perfil, a habilidade, a disponibilidade e o potencial exigido. Vamos exemplificar.

Durante seis anos, na instituição de ensino que trabalho, estivemos orando por um responsável na área de finanças. Muitos apareceram para apagar o incêndio, ou melhor, surgiram como salva-vidas, mas obviamente não eram os mais qualificados. Então, ao procurar pelo gerente ideal, foram determinadas as exigências para que os candidatos fossem selecionados. O mesmo sistema tem sido feito na contratação de professores, funcionários, inspetores etc. Por que, ademais, não ocorre o mesmo na seleção de membros para ministérios? Observe que o slogan "é Deus quem chama, escolhe" também está contemplado nesse entendimento. Ninguém fica excluído da seleção, apenas que ele ou ela está sendo escolhido de acordo com as qualificações necessárias para a demanda ministerial. O líder sensato poderá comissionar pessoas-chaves para o ministério se o banco de dados também estiver disponível com essas informações. Resta, ao líder, esclarecer que o banco de dados a ser construído é um apoio ao seu ministério.

Por fim, o banco de dados é tão somente um apoio. Ele não substitui o contato pessoal, os bate-papos, os telefonemas, as visitas esporádicas e agendadas, a alocação de membros para aqui e acolá suprir as emergências ministeriais. A informática é um potencial da humanidade que precisa ser explorada, e hoje ela tem a finalidade de aperfeiçoar o ministério pastoral. No entanto, reconheço que jovens e antigos pastores ainda têm reservas ao uso da tecnologia. É uma questão de mentalidade. Aliás, foi assim que iniciei o artigo, dizendo que há mentalidades acerca da diversidade de ministérios. Minha reflexão não é contra os carismas, mas o uso dos materiais de apoio a favor deles.

Ênio Caldeira PintoÊnio Caldeira Pinto
Doutor pelo Trinity International University (Deerfield, EUA), Mestre em Teologia pelo Western Theological Seminary (Michigan, EUA) ; Especialista em Literatura Brasileira pela UEL (Universidade Estadual de Londrina);  Licenciado em Letras pela UEL  e Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico de Londrina (PR). Foi professor de tempo integral da Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA). É membro da Igreja Presbiteriana Independente.

Instituto Jetro | Pastoreando com o coração, liderando com excelência.

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