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É pecado o pastor evangelizar?

EM FOCO

Hélio Bulaímo
Hélio Bulaímo
Natural de Pemba, em Moçambique, África, é missionário, professor de inglês, professor de teologia no CTP - Colégio Teológico de Pemba, graduado em teologia pelo UNIECO – Instituto Educacional Evangélico do Centro-Oeste, em Brasília-DF.
É pecado o pastor evangelizar?
Pastor, agente orientador no meio do povo salvo por Deus em Cristo | Foto: Reprodução

Pastor, qual a última vez que o senhor levou uma alma a Jesus?

“Eu sou a videira verdadeira, e o meu Pai é o agricultor” (João 15.1)
Hélio Bulaímo

Estamos vivendo os últimos tempos, cientes de que o amor está se esfriando entre nós que somos o povo de Deus. E por falar de frieza espiritual, também encontramos um grande défice de entendimento das Escrituras Sagradas, principalmente no meio pastoral. E quando o assunto é sobre o pastor, precisamos de uma atenção redobrada, pois, trata-se da liderança eclesiástica, o agente orientador no meio do povo salvo por Deus em Cristo.

Entretanto, vejamos, hoje, boa parte dos pastores não evangeliza. Eles não ganham almas para Jesus; são mestres em criar sermões dentro dos templos; conseguem mandar os outros para fazer missões, caminhar de casa-a-casa para resgatar os perdidos. Contudo, muitos deles, pouco se interessam em sair para também ser exemplo de evangelização. Conseguem abrir e divulgar uma campanha e conferência sobre missões locais, nacionais e transculturais, empolgam os outros com exortações templocêntricas para se evangelizar o mundo ao seu redor; mas, seria bom ver o pastor também tomando a dianteira na pregação do evangelho fora da igreja! Então, “é pecado mesmo o pastor anunciar o evangelho?”

Afinal, “quem é o pastor e o que é ser um pastor?” Pastor é crente? Ele é uma pessoa? Ele não é também discípulo de Cristo? Não pode ele evangelizar como  cumprimento da ordem de Cristo aos seus discípulos? São perguntas que precisamos responder com muita precisão pelo vigor bíblico.

Três verdades a saber

Primeira verdade, o versículo antes citado, coloca Jesus como a videira, e Deus como o agricultor. O impressionante é notar que o contexto do capitulo 15 do Evangelho de João coloca todo cristão como ramos, e não como videira, muito menos como agricultor. Todo cristão é ramo e não videira nem agricultor. Portanto, se o pastor é cristão – seguidor de Cristo, então, ele não pode ocupar o lugar de Cristo sendo videira da Igreja, nem agricultor da Igreja, apenas um dos ramos que compõe a Igreja de Cristo.

Segunda verdade, ser pastor, do hebraico é ro’eh (protetor) e do grego poimen (para designar o ministro da igreja). Notadamente, esta palavra foi, várias vezes, usada pelo Senhor Jesus no NT (Hb 13.20; 1 Pe 2.25) e, apenas uma vez, como pastor dos cristãos (Ef 4.11). Nessa passagem, ela aparece como um dom espiritual a ser praticado, e não como uma função a ser ocupada. Na verdade, como descreve o dicionário Bíblico Wycliffe: “Qualquer cristão que orienta, protege, e geralmente trabalha como protetor em relação aos outros crentes, está desempenhando o dom espiritual de um pastor”. Entretanto, essa palavra veio a designar alguém que formalmente alimenta o rebanho, administra as ordenanças, lidera a adoração e guarda a verdade (Hb 13.17; 1 Pe 5.2). Outro detalhe é, que as epistolas pastorais fornecem as diretrizes dos deveres daqueles que ocupam, oficialmente, as posições de liderança como pastores entre rebanho de Deus (2 Tm 4.1-5). Ao dirigir-se aos anciãos da Igreja em Éfeso (At 20.17), Paulo os chamou de supervisores ou bispos (v.28) e ordenou que apascentassem (ou “alimentassem”) o rebanho (v.28).

Terceira verdade, quem convence a alma do pecado é o Espírito Santo, mas o quem evangeliza são os discípulo de Cristo Jesus (Jo 16.7-10). Portanto, é o papel de todo cristão, seja ele, pastor ou novo convertido, pregar o evangelho crendo que com a ajuda do Espírito de Cristo almas virão ao arrependimento dos seus pecados.

Todo pastor que lidera igreja precisa saber que além do titulo que recebe, ele é ser humano como qualquer um; é um pecador remido pelo sangue de Cristo como qualquer outro discípulo de Jesus convertido de verdade. Herói dentro da Igreja é só Jesus, no mais somos todos seguidores. O “Ide, pregai o Evangelho a toda criatura”, é para todos cristãos, inclusive o pastor que também é cristão, isto é, ovelha do Sumo Pastor, que é Cristo. Se excluir desse conhecimento, é se bancar de “dono da Igreja e do céu”, o que na verdade constitui puro engano.

É pecado o pastor evangelizar?
“Todo pastor que lidera igreja precisa saber que além do titulo, ele é ser um humano; é um pecador remido pelo sangue de Cristo como qualquer outro discípulo de Jesus” | Foto: Reprodução

A era da tirania gospel

Assistimos realidades traumáticos no seio da Igreja atual. Coisas tais que, se plagiar para adicionar a esse artigo, muitos podem querer deixar de ser cristãos de verdade.

Alguns pastores têm como manual que fundamenta sua liderança o tribalismo e não a Bíblia sagrada. Lamentável, mas é fato.

Não é de se surpreender que para certas igrejas quem postula seu bastão de liderança é uma convenção pastoral sem temor a Deus e amor ao próximo, e muito mais autoritária a ponto de pensar que o chamado para a evangelização é para alguns e não para todo membro do corpo de Cristo (a Igreja).

Tristeza enorme no nosso meio. Vivemos na era da “tirania gospel” sem visão em viver a Palavra de Deus. Repiso que não estou generalizando, mas é um fato que abisma os nossos dias, sendo que há pouca voz para denunciar com propriedade esse assunto.

Creio que uma das razões, seja o medo de ser expulso da congregação; outra, é o medo de não receber (ou perder) o prestigio da atenção no meio pastoral. Volto a dizer: o dono da igreja é Deus e não o pastor, que é simples homem como eu e você.

Os perdidos para um pastor estão só no templo?

Pergunta realista, porque se o pastor se concentra em pregar só no templo, isso pesa mais em concluir que para ele os perdidos estão só na igreja e não também fora dela.

O impressionante é saber que na Bíblia muitos pastorearam igrejas, mas também não se cansavam de pregar o evangelho aos não alcançados. Exemplo disso está em Paulo que, além de zelar pelas igrejas, foi um autêntico missionário (2 Co 11.28). Pedro que também liderou a igreja e se apresentava como presbítero do povo santo, mas incansavelmente pregava o evangelho ao povo da Ásia menor (1 Pe 1.1,2; 5.1-4). Tiago, que foi o primeiro pastor da igreja de Jerusalém, também se preocupou tanto pelas almas, não só com os que estavam dentro da igreja, mas com os que estavam dispersos e os que ainda não tinham se encontrado com o Senhor Jesus (Gl 1.18,19; Tg 1.1).

A lista é enorme mas, presumo dizendo que, ser pastor de Cristo não é se concentrar em pregar somente para os frequentadores da igreja nos cultos semanais, mas também aos que nunca colocaram os pés no templo. Desperta, pastor amado!

“Tenho medo de ir ao inferno porque não visito o meu pastor com frequência”

Existe um número gigantesco de crentes que vivem um “lambebotismo cristão” no meio da igreja, algo que é gerado pelo nepotismo eclesiástico, isto é, o favorecimento que o líder da igreja faz dos crentes em detrimento de pessoas mais qualificadas, especialmente no que diz respeito à nomeação ou elevação de cargos, seja lá de consagração, segundo o querer do líder.

Não é proibido visitar o pastor e/ou líder, isso é bom e bíblico, mas, visitar com propósito de agradar o homem e não a Deus, isso é antibiblico. Visitar para que o líder não esqueça o seu nome na igreja; te dê sempre a saudação especial “Paz do Senhor Jesus”; promover para o cargo tal; te consagrar, etc. Isso é um “lambebolitsmo cristão”.

O cristão precisa considerar, como Cristo o valoriza. Entretanto, o pior de tudo é que tem lideres que não se contentam com uma simples visita do seu liderado, alegam que o visitante não pode chegar com as mãos vazias, mas ter um presente ou oferta para o pastor. Outros ainda, alegam que é dever do crente demonstrar o amor ao seu pastor lavando as roupas, pratos, limpando tudo da casa pastoral. E não fazendo coisas assim, é visto como a famosa “ovelha negra” – aquele crente indisciplinado, e automaticamente fecha as portas para a atenção do querido pastor na sua vida.

Muitos pastores hoje não visitam os crentes, mas são bons em exigir visitas dos crentes e ainda com presentes nas mãos ou oferta no bolso. Não é mal o crente dar seu todo e qualquer tipo de oferta dedicando ao Senhor Jesus no templo, para boa manutenção da casa de Deus. Mas, fazer isso para simplesmente agradar ao pastor é pecado terrível.

Esse cristianismo é colonização ou evangelização?

Vou direito ao ponto. A visão de muitos lideres no nosso meio é colonizadora. Parece que não aprenderam com a história. Reparam o próximo como um objeto dos seus desejos e para preencher estatística convencionais da igreja.

É pecado o líder da igreja evangelizar?
Alguns pastores têm como manual que fundamenta sua liderança o tribalismo e não a Bíblia Sagrada | Foto: Reprodução

Para que os batismos, a evangelização, as missões transculturais? Na visão destes pastores e lideres colonizadores, é para aumentar o status, o  respeito, o ego, e o ser reconhecido pelos outros que são grandes ministros de Deus e não para adorar e servir ao Senhor de verdade. Confesso que isso me deixa trêmulo até escrevendo agora.

Assistimos casos onde os que pregam o Evangelho até não sabem porque e para que estão pregando. O assunto é mais triste ainda, quando visitamos as Escolas Bíblicas de algumas denominações, que são autênticos “centros de colonização eclesiástica”. Lugar este, em que todo o crente é formatado na visão que agrada ao pastor, e não ao Senhor Jesus. São casos tão fúteis e constrangedores, em que vimos escolas teológicas tão denominacionais e não cristocêntricas como deveria ser.

A questão é: “se Cristo e os apóstolos vivessem fisicamente nos dias de hoje e assim, visitassem as nossas congregações, o que diriam?”

O que se precisa então?

– DECISÃO DE MUDANÇA! Creio ser a frase certa para essa pergunta. Nossa decisão muda tudo.

Se hoje estamos caminhando para um lado errado por vivermos e liderarmos mais para o nosso bem e não o de Cristo, então devemos decidir viver o arrependimento e mudar de atitude com toda urgência.

O tempo voa, e nós precisamos voar com o tempo. Já ouvi dizer que nunca é tarde, mas a verdade nos diz que tarde sempre vai ser tarde, porque o tempo não nos espera. Por isso, mesmo tarde, enquanto é agora, vamos mudar essa rotina de desgosto para com o povo e a obra de Deus.

Não somos os donos da Igreja e nunca seremos! Nem podemos tentar ser “pastores e lideres pescoços” para orientar a Cristo e a sua Igreja a fazer o que nos apraz. Como membros do corpo de Cristo, precisamos nos submeter verdadeiramente a Deus.

Outro detalhe muito importante é, sempre devemos evitar a prática de estar fora do contexto nas coisas sagradas, principalmente no que se refere à Palavra de Deus (Bíblia Sagrada). Diz-se sempre na homilética que: “Texto fora do contexto vira pretexto”. E isso é verdade, pois, ensinando algo que se pensa ser uma verdade, quando é mentira, forma-se um bando de hereges que se denomina de verdadeira igreja de Deus enquanto é uma verdadeira sinagoga de Satanás. Cuidado é necessário.

A vida é um processo de aprendizado cheio de estágios enigmáticos. Não se pode correr para ser maduro, quando nem noção do quão verde que se é. Somos eternos estudantes de Cristo, e quando não sabemos de algo, o melhor é ser humilde e perguntar aos que sabem, mesmo que sejam nossos próprios liderados ou pessoas com menos estudos que nós (vale muito a experiência deles). Isso sim, é ser discípulo.

É pecado o pastor evangelizar?
O amor é o cinturão do verdadeiro pastor, líder de uma igreja | Foto: Reprodução

– AMOR. O amor deve ser vertical assim como horizontal. O cristianismo bíblico parte dai, como disse o meigo Mestre Jesus: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Marcos 12.30,31).

O cristianismo, então, é vertical porque está em amar a Deus acima de todas as coisas (criatura ou desejos humanos); e horizontal, porque o cristão deve amar ao próximo (não a quem quiser, mas qualquer um que seja ser humano) como a si mesmo. Um cristianismo que visa fazer escolhas a quem amar ou deixar de amar, esse é cego e anti-bíblico. Portanto, o amor é o cinturão do verdadeiro pastor, líder de uma igreja.

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