Além do batismo com o Espírito Santo, cuja evidência inicial são as línguas estranhas, o apóstolo Paulo fala de outros dons que são distintos da evidência inicial do batismo, ele apresenta a variedade de línguas, a interpretação de línguas e a profecia, entretanto, ambos os dons são inseparáveis. Esses três dons formam a categoria dos dons de elocução.
No Antigo Testamento, os profetas eram pessoas revestidas do “ministério profético”, e sempre iniciavam a mensagem, dizendo: “Assim diz o Senhor” ou: “Veio a mim a palavra do Senhor”. No caso do dom de profecia, no Novo Testamento, a mensagem vem diretamente de Deus e é transmitida como se o próprio Deus estivesse falando.
I. DOM DE PROFECIA (1 Co 12.10)
No Novo Testamento, a palavra “profecia” tem um sentido especial. Trata-se de “um dos dons do Espírito Santo”, significando “uma predição momentânea e sobrenatural”.
Os dons de revelação expressam os pensamentos de Deus.
Os dons de poder manifestam sua onipotência e grandeza, preenchendo o campo inteiro de nossa visão. Os dons de elocução comunicam os sentimentos do coração de Deus.
A palavra de Deus ou “palavra profética”, foi sempre de “muita valia” para o povo de Deus em geral (1 Sm 3.1). Talvez por isso Moisés tenha exclamado: “Tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu espírito!” (Nm 11.29).
Há três fontes, das quais podem surgir uma mensagem profética:
1) Divina. Isto é, a inspiração que parte diretamente do coração de Deus, fonte de todo bem (Jr 23.28,29; Tg 1.17; 1 Pe 4.11).
2) Humana. Neste caso a mensagem parte do coração do próprio profeta, que fala sem autorização do Senhor (2 Sm 7.2-17; Jr 23.16).
3) Demoníaca. A falsa profecia parte diretamente de “um espírito enganador”, ou mesmo de “um demônio” (1 Tm 4.1-3; Ap 16.13,14).
A profecia visa a edificação da igreja, esse é o tema central do capítulo 14 de 1 Coríntios, e não apenas a edificação do crente individual, como é o caso das línguas quando não interpretadas. A profecia serve para exortação, também para consolar e é um meio de transmitir revelações e doutrinas, quando em concordância com revelação plenária.
II. VARIEDADE DE LÍNGUAS (1 Co 12.10)
Pelo menos sete dos nove dons, encontrados em Coríntios encontram respaldo no Antigo Testamento; não encontram, porém, variedade de línguas e interpretação de línguas pois, esses dons foram dados a partir do Pentecostes. Variedades de línguas sugere uma multiplicidade linguística, assim como no caso de curas e de milagres: são dons que vêm no plural.
As línguas, como sinal da evidência do batismo com o Espírito Santo servem para a edificação do próprio indivíduo, enquanto as línguas, em forma de dom espiritual, trazem consigo uma mensagem espiritual de edificação para toda a igreja, quando houver interprete.
Deus continua distribuindo os diversos dons do Espírito ao Corpo, que é a Igreja; dando um ou mais dons a quem quer, diversificando-os entre os membros com o objetivo de edificar a Igreja. No entanto, ninguém deve sentir-se maior ou menor. Os dons do Espírito não são para a vanglória pessoal, nem servem para estabelecer níveis diferentes de espiritualidade. No Corpo de Cristo, toda a glória é dada a Deus.
III. INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS (1 Co 12.10)
O dom da interpretação das línguas está diretamente ligado ao dom da variedade de línguas, doutra forma não faz sentido a sua existência. Porém não deixa de ser importante é tanto que o apóstolo faz questão de mostrar a sua necessidade no culto a Deus. Assim no culto público, quando alguém fala em línguas, é bom que sejam interpretadas (1 Co 14.5). Se todos falarem em línguas ao mesmo tempo na igreja, ninguém compreenderá nada, e as línguas estranhas devem ser compreendidas. “O que fala língua estranha, ore para que possa interpretar” (1 Co 14.13).
A interpretação das línguas assemelha-se ao dom da profecia, diferindo deste em alguns aspectos: a profecia tem caráter tríplice: edificar, consolar e exortar (1 Co 14.3); já a interpretação trará à luz o que alguém expressa em línguas, porque elas servem de intercessão, louvor e expressão de mistério. Paulo valoriza ambos os dons: no dom de profecia e no dom de interpretação das línguas. Num culto público, a ordem e o entendimento não podem ser suprimidos: “Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento” (1 Co 14.15).
CONCLUSÃO
No primeiro século da igreja, muitas pessoas foram conhecidas por causa do dom da profecia, por exemplo, as quatro filhas de Filipe (At 21.9). Outro exemplo é o profeta Ágabo, com duas profecias: a primeira, referente a um tempo de fome que haveria em todo o mundo. A outra profecia diz respeito à prisão que Paulo sofreria em Jerusalém (At 21.10.11) . Na igreja de Antioquia, havia “alguns profetas” (At 13.1). Tessalônica contava com vários deles, assim o apóstolo Paulo recomenda que as profecias não sejam desprezadas, para que o Espírito não seja extinto (1 Ts 5.19-22). Na igreja de Tiatira, estava Jezabel, a quem se dizia profetisa (Ap 2.20). Há também Barjesus, o falso profeta da ilha de Pafos (At 13.6). Esses casos, exceto os dois últimos, servem para consolidar a certeza de que o dom de profecia era comum em todas as igrejas do passado. Diante de tudo isso significa que quem fala línguas busque interpretar, o que profetiza deve esmerar-se no dom, através de oração e do exercício do cuidado, para entregar somente o que recebe, ainda que sejam apenas duas ou três palavras.
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