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Vila Velha

Aos pastores: o lado ruim da cultura da MEGA-IGREJA!

EM FOCO

Silvio Costa
Silvio Costa
Silvio mora na belíssima cidade de Guarapari no ES; estudou teologia no Seminário SEET e SEIFA, é professor de matérias teológicas na FATEG, membro do conselho editorial da revista Seara News. Também contribui como colunista em outros portais evangélicos do país, além de palestrante em escolas bíblicas e conferências teológicas. Mantém também o blog Cristão Capixaba.

UMA PERGUNTA: A eclesiologia fundamentalmente bíblica choca-se com “A ATUAL CULTURA DA MEGA IGREJA?” Não sei se você como pastor ou líder espiritual de sua congregação sabe que apesar de sua comunidade ser ainda pequena em metros quadrados ou número de membros – ainda assim poderá estar sendo influenciada pela teologia contemporânea das “super igrejas” – que em sua polaridade ruim é um enlatado de marca registrada, personalismo, música envolvente, líderes exibicionistas de grifes, crentes “viciados” no templo, “consumidores de produtos da fé”, ostentação secular (poder, fama, influência política e muito dinheiro) e mensagens antropocêntricas como homília de púlpito.

Saímos do universo eclesiástico no fim do século passado com os grupos familiares e as células domésticas em nossas congregações (essas frentes serviram fora do templo como apoio comunitário, frente evangelística e sobretudo, discipulado aos novos crentes) e neste novo chegamos ao surgimento das “igrejas emergentes”, que em seu auge necessitaram dos “mega templos” que são projeções imponentes da significância das próprias “super igrejas”. Vale observar que o  tamanho dos grupos de algumas dessas igrejas em determinados locais são tão grandes e numerosos (e por isso  influentes) que verdadeiras e peculiares culturas eclesiais foram geradas por eles e fomentadas como modelo de igreja local que deu e dá certo (é isso que aventamos aqui).

Algumas considerações devem ser feitas a respeito de igrejas que geram culturas próprias – e que essas novas formas de ser igreja nem sempre são cristãs em sua essência.  Há consequências em toda ação eclesiástica desde pequenas comunidades às gigantescas (mas são as grandes igrejas que chamam a atenção de todos às suas práxis e ao que são e como estão fazendo as coisas enquanto comunidades de fé). Nos últimos anos algumas das ditas “mega igrejas” estão passando por momentos críticos por conta de tropeços e falhas grosseiras e repugnantes de seus líderes, reação da opinião pública diante de crimes relevados por investigações policiais (e que pela organização religiosa jamais seriam relatados) e principalmente pela pressão interna que muitos de seus adeptos começaram a fazer sobre as razões e justificativas do “modus operandi” daquele particular mundo religioso (esses problemas também ocorrem em igrejas menores – mas, as super igrejas acabam ganhando mais destaques na publicidade das ocorrências). Nesta reflexão a linha de análise é mais teológica / eclesiológica que movida pelos noticiários, as manchetes e produções visuais apenas ressaltaram a necessidade de fazê-la.

Pontuar sobre a cultura de uma igreja / e das “mega igrejas” em questão é assunto amplo e profundo ao mesmo tempo (condições que este artigo limitado de caracteres não conseguirá prover a contento); mas, para você conhecer mais a respeito do tema, recomendo assistir ao documentário “O ESCÂNDALO POR TRÁS DA MEGA IGREJA” produzido pelo streaming Discovery Plus este ano (2022). Adianto que é preciso utilizar FILTROS ao assisti-lo (há afirmações de depoentes que colidem contra ensinamentos bíblicos que são inegociáveis como a pureza sexual, o não uso de drogas e o não consumo de bebidas embriagantes, por exemplo). Dito isso, afirmo que o  documentário é ÚTIL para nos ajudar a identificar algumas características da cultura da “MEGA IGREJA” que influenciou e se impôs a muitas outras  congregações mundo afora.

Recomendo a você que ALÉM de assistir ao documentário mencionado acima, considere outras opiniões a respeito do tema (deixarei no fim deste artigo os links do documentário e mais 3 outros para você conferir e chegar a sua própria conclusão).

Bom, exposto este necessário “monte” introdutório, adiante exponho minhas avaliações a respeito:

Nenhuma igreja local é totalmente ruim, ou absolutamente boa (é saudável quando é mais boa que ruim – e doentia quando é mais ruim que boa, pense nisso). Portanto, é necessário esclarecer que foquei nos “pontos ruins” da dita cultura da “mega igreja” – naqueles que influenciam ou podem inspirar outros pastores e líderes a reproduzi-los em suas respectivas comunidades. Mas, preciso admitir que a cultura em questão também tem outros pontos positivos enquanto congregação (tema para outro artigo).

Teologia da “mega igreja”

A teologia da “mega igreja” é mista, contemporânea e extremamente focada no ambiente cúltico. Eu vejo que o “lado ruim” da cultura da MEGA-IGREJA é o resultado de um tipo peculiar da simbiose das teologias da prosperidade e confissão positiva (isso predominou nos púlpitos, principalmente nos das igrejas pentecostais nos últimos tempos), adicionando ainda a sobreposição da experiência e dos sentimentos (marcas da pós-modernidade)  à teologia cristã (óbvio que não se adora a Deus sem sentimentos, mas devem imperar racionalidade pessoal e ordem litúrgica coletiva ao fazê-lo). Igrejas adeptas a teologia da prosperidade foram as primeiras a darem largada em propiciar conexão sentimental do adepto ao templo (e não primariamente ao SENHOR). Nesse círculo o templo funciona como um ambiente canalizador dos favores divinos, seu  indumentário é sublimado com paramentos e objetos sincréticos, firma-se como um lugar de bênção, um espaço de buscar e celebrar a tão sonhada prosperidade material; enfim, num centro de sinergia capaz de consolar e inspirar os presentes. Perceba que o destaque é o AMBIENTE de modo que na mentalidade do adepto para se ter uma experiência com DEUS é preciso estar NAQUELE ambiente, e convenhamos que tal conceito é anti-bíblico! É preciso reforçar de vez em quando em nossas igrejas que qualquer “ente” de relação com o Cristo de Deus que não seja a de Seu Espírito, oração (confissão) pessoal ou Sua Palavra é mero arroubo e desvio, ainda que com a melhor das intenções!

Marca da “mega igreja”

A marca (registrada) da “mega igreja” tornou-se num negócio lucrativo. É notório que a cultura da “super igreja”  concebeu uma nova consciência, um outro modelo de “ser igreja” / uma variante eclesiológica estranha e heterodoxa que não se apresenta na prática e no testemunho como povo de Deus, mas como orgulhosa marca religiosa (qualquer marca que tem distintivos, VENDE!); por isso já não é mais um corpo cristão (a “misticidade” da igreja dos santos diluiu-se em marcas registradas de igrejas – que estão licenciando quase tudo, acredite!), ao contrário, é no funcionamento de tais gigantescas congregações que percebemos uma verdadeira empresa capitalista em ação e que tem no ambiente religioso e sua liturgia os seus canais de sua principal fonte de receita. A bíblica ordem ministerial dos obreiros foi convertida numa executiva hierarquia empresarial de modo que não há mais pastores, mas  gestores. O relatórios mais importantes não são mais os de convertidos e batizados, mas as entradas financeiras da matriz e das filiais (perceba que as nomenclaturas que aparecem nos relatórios são do mundo dos negócios).

Missiologia da “mega igreja”

A missiologia da “mega igreja” tende a ser unipolar. Sim, sua característica “missio-dei” (entre aspas mesmo) é voltada muito mais para os de fora >> para o mundo (e a busca pelos mundanos fez com que a comunidade também se tornasse mundana, algumas chegando aos porões da imoralidade). A bem da verdade as grandes igrejas demonstram uma constatação desagradável – a igreja do século XXI é cada vez mais igual ao mundo (por alguma razão na medida em que se populariza, perde sua identidade bíblica). Basta pensar no que a maioria dos membros desses ambientes tem de diferente dos ímpios? Resposta: uma rotina de cultos, no demais são iguais aos de fora em seus comportamentos e aspirações.

Homilia da “mega igreja”

A homilia da “mega igreja” é cheia de relativismos. As mensagens de: “sinta-se em casa”, “você é o máximo”, “seja você mesmo” agradam, mas não convertem, afagam, mas não confrontam. E, se analisarmos mais profundamente o espírito dessas homilias será inevitável o discernimento: essas igrejas estão relativizando a pregação do Evangelho, e com isso estão abandonando posições absolutas do cristianismo raiz – e este é um dos principais erros da cultura da “mega igreja”! Há quem diga que para uma comunidade de crentes vir a ser uma igreja das massas – é preciso relativizar-se em muitas posições; e para crescer aos milhares é preciso ser extremamente pragmática (fazer o que dá certo – do tipo: se enche o grande espaço de culto, então serve), e para tanto há custos doutrinários que precisam ser “cortados”.

Pastoreio da “mega igreja”

O pastoreio na “mega igreja” só dá pra ser o do “culto-show” e não o da ovelha. Tudo o que cresce muito tem desafios menores e essenciais que incomodam demais de forma transversal da base ao topo. A relação mais básica dentro de qualquer comunidade cristã é a dos cuidados do pastor para com a ovelha (na matemática de Cristo – uma ovelha que se perdeu tem tanto valor como as outras noventa e nove que estão no aprisco). O pastor popstar que prega na “grande igreja” não tem tempo nem para todas as agendas quanto mais para o irmãozinho que deixou de frequentar o culto há 1 mês. Ah! Mas a igreja tem um programa de visitas e assistência eficiente; retruco: nenhum programa de visitas que prescinde o contato e os cuidados do próprio pastor à ovelha é eficiente! Quem vai dar contas a Deus de nossas almas – não pode terceirizar a função, entende?

Liderança da “mega igreja”

A liderança da “mega igreja” é geralmente “disruptiva” e aqui está mais um perigo para a sua congregação. O advento da era da igreja emergente é consequência também de líderes que alteraram o “status quo”, digamos da eclesiologia convencional. Gostamos deles por que inovaram em muitas frentes religiosas, quebraram paradigmas litúrgicos, ousaram em iniciativas jamais pretendidas pelos “antigos” e mudaram, sim – mudaram tanto que alteraram o curso de algumas coisas que não deviam. E, para piorar, os tais “líderes espirituais” são despojados de qualquer correspondência celestial (do ofício pastoral por referência) ao contrário são os mais terrenos possível – são coaches, influencers, garotos propaganda da ostentação, das marcas caras e das etiquetas de luxo –  são ministros da exibição do poder financeiro. Muitos desses ajuntamentos com capacidade de lotação imensa, precisam ser conduzidos por tipos “questionáveis de liderança” umas que sem qualquer escrúpulo ou empatia agem como notórias aproveitadoras; em muitas dessas searas percebe-se a exploração da sinceridade e da mão de obra dos fiéis (e ao que parece impera uma máxima: “gaste o mínimo com o funcionamento do templo e seus serviços e arrecade ao máximo dos que querem usufruí-lo). É preciso reforçar que  geralmente nesses espaços também existem balcões de negócios da espiritualidade (agora é um “senhor” produto, altamente lucrativo – o intangível e sem qualquer custo – agora é tangível e precificado – lembra das indulgências do século XVI? É quase nada perto do que fazem atualmente nessas super, hiper, mega igrejas).

Cultura da “mega igreja”

A cultura da “mega igreja” impõe regulares contribuições financeiras e demonstra baixíssima transparência de como, onde e com quem emprega tanto dinheiro. Como o dinheiro é um “meio para receber bênçãos” em muitos desses grandes ajuntamentos, você já percebeu como essas igrejas (principalmente as neopentecostais) trabalham em cima de obter contribuições financeiras a todo custo e a todo momento? O dinheiro é basilar em tudo o que se faz ali. Já sabemos que os pastores desse meio recebem metas financeiras e para atingirem seus objetivos precisam inventar e incentivar o ato e o cumprimento de propósitos, campanhas, votos e semeaduras de fé – o que na prática não é nenhuma vontade de Deus – isso tudo – é puro e simplesmente objetivo financeiro da própria super igreja. Fiéis devem e precisam contribuir com suas comunidades – nenhum crente consciente questiona ou ignora tal ato, mas isso é bem diferente do que muitos pastores estão a fazer em suas igrejas abarrotadas de gente. Infelizmente, grande parte dessa “dinheirama” vai transformar a vida social SOMENTE da cúpula eclesiástica (pois não vai demorar muito para “os chefes” comprarem mansões, carrões, fazendas, jatinhos, frequentarem restaurantes caros, viagens internacionais (a lazer) com muita extravagância. E, nada, nada disso tem haver com  “fazer a obra de Deus” é vida boa e abastada para eles próprios às custas dos sinceros fiéis. Tais líderes vão dizer que foram “abençoados por Deus” e por isso são prósperos – mas, isso é pura enganação! Eu sei, foi forte o que acabei de descrever, mas pense: até eu e você recebendo mensalmente e com sagrada regularidade (vou cravar baixos percentuais de 2% ou 3% da renda de milhares de pessoas), ficaríamos milionários em pouquíssimo tempo, concorda comigo? E a verdade é que a maioria dos adeptos dessas congregações não enxergam que não foi JESUS que abençoou o seu apóstolo, bispo ou pastor das multidões – pois ao buscar a “razão da  prosperidade do líder” – descobrirão que na verdade foi o sistema religioso que o próprio líder implantou / as vezes um sistema tão perverso que contribuintes sugestionados tiram da boca dos próprios filhos para darem a famigerada igreja que só fala e vive de dinheiro – e isso não é ato de fé, ao contrário é por parte de quem EXIGE uma tremenda manipulação e por parte de quem DÁ uma ignorância bíblica – mas se há quem o faça “liberalmente” que mal há? Muitos e na eternidade descobrirão seguramente!

A cultura da “mega igreja” é muitas coisas – é também teológica – óbvio – mas, ao seu modo e é regulada pelos conceitos de sustentação de seu próprio mundo eclesial – e diante disso, esses “mandamentos” nem sempre são prescrições bíblicas (a representação de mundo próprio que a “hiper igreja” tem lhe permite fazer isso – afinal são milhares de fiéis – há uma cartilha daquele grande reino congregacional memorizada nas cabeças que ministram no púlpito e não é a bíblia – são as mirabolantes visões dos fundadores ou do conselho geral) e que desenvolve estratégias para dominar várias áreas (a exemplo da teologia dos 7 montes, citada no documentário / em destaque o monte político). A intromissão do poder religioso no mundo político é de capítulos ruins, tristes e vergonhosos na história da própria igreja. No Brasil, infelizmente o pior ainda está por vir, pois a cultura política da “mega igreja” está entrando e afetando sorrateiramente nossas mais sinceras lideranças – e acham que estão defendendo alguma coisa de Reino de Deus ou de família tradicional – quando na verdade o que estão a fazer é contribuir com projetos políticos da igreja de satanás. É prostituição espiritual pura!

O lado RUIM da cultura da MEGA-IGREJA predominou, espalhou-se e contaminou muitos, muitos arraiais desde a Austrália até as nossas cidades, acreditem! Em resumo significa que a visão bíblica atual de muitos pastores sobre o papel e atuação da igreja é mais sociológica e capitalista que bíblica e espiritual (a ideia de igreja mesclou-se na compreensão e prática de um negócio espiritual que entrega bens materiais, parece contraditório em paralelo, mas é harmonioso em seus fins empresariais).

A cultura e vida da igreja emergente tem de tudo um pouco: mundanismo, relativismo, narcisismo, corporativismo, fisiologismo, patriarcalismo, vaidade e grana, muita grana – pois é uma cultura de capital financeiro disfarçada de “contribuição voluntária”.

Amados, as “pedras estão clamando” e lamentavelmente muitos que deveriam estar vigiando, DORMIRAM ou se corromperam com o sistema configurado pelo próprio Satanás!

Finalizo acentuando que estamos já nos confrontando com aquela “mega igreja” de Apocalipse 17 – daquela que apoiará e será usada pelo Anticristo para os intentos de seu governo de mentiras. Então, neste artigo “mega igreja” ganha acepções para além do congregacional, do local e comunitário – alcança as dimensões do sistema que governa o mundo e que nesses últimos dias, também tem se disfarçado de igreja em muitos lugares. “E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas” Ap 18:4.

Quem quiser assistir ao documentário citado e chegar as suas próprias conclusões, seguem os links:

Episódio 01

Episódio 02

Episódio 03

E neste outro vídeo uma *análise importante de um teólogo sobre a citada produção do Discovery Plus:

Confira também neste link a opinião de uma outra pessoa que não é da igreja a respeito do documentário: cique aqui

Neste link final um estudo feito há mais de uma década sobre o fenômeno da igreja emergente – clique aqui

Garanto que ao fim teremos refletido sobre as nossas comunidades, bem como a eclesiologia que estamos desenvolvendo no presente – pois a próxima geração de crentes dependerá disso para o que é bom ou para o que é mau.


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