Escola Dominical – Comentário de apoio da Lição 8, do 4º trimestre de 2020 – A teologia de Zofar: O Justo não passa por tribulação?
Aniel Ventura
A teologia de Zofar segue a mesma linha da teologia de Elifaz e Bildade, acusavam Jó de estar em pecado, chamando-o ao arrependimento. Porém, Zofar, muito mais perspicaz do que seus amigos, atacava Jó com veemência, apresentando-o como alguém apreciado ao falar, ainda que não possa dizer algo sobre o tema em discussão, e como quem mantém falsidades. Desejava que Deus mostrasse a Jó que a ele era infligido menos castigo do que o merecido. Será que estamos prontos e seguros para pedir a Deus que atue em nossas disputas, para pensar que se tão-somente falasse, Ele viria ao nosso favor?
I – DEUS SE MOSTRA SÁBIO QUANDO AFLIGE O PECADOR
Zofar é ainda mais rude que Bildade (Jó 8.1-13). Ele era um legalista ferrenho que baseava seus argumentos em uma teologia mal aplicada e a raciocínios simplistas. Exagera o que Jó havia dito a respeito de sua inocência (Jó 9.14-21) para fazê-lo parecer um tolo. No entanto, Jó jamais afirmou que sua doutrina era pura.
Equivocadamente pensava o amigo de Jó, que a prosperidade terrena sempre era a sorte do justo, o sofrimento era uma condenação por ser hipócrita, a menos que sua prosperidade fosse restaurada. Ele seria sábio se seguisse a sabedoria e, como os seus primeiros pais, tentando ser mais sábio do que aquilo que lhes foi dito, perderam a árvore da vida em detrimento à árvore do conhecimento.
Jó suspeitava que a causa da conduta dos seus amigos era que desprezavam ao que caía na pobreza. Este é o estilo vivido pelo mundo. Mesmo um homem reto e justo é olhado por eles com desdém caso venha enfrentar uma dificuldade como esta. Este não foi o perfil adotado por Jesus, ele sempre em situações calamitosas agia de forma diferente.
“E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela e disse-lhe: Não chores” (Lucas 7:13).
II – A CONVERSÃO COMO RESPOSTA À AFLIÇÃO
O discurso de Zofar contém graves erros teológicos. A Bíblia não garante em nenhum lugar uma vida aqui, “mais clara… do que o meio-dia” para o crente fiel (Jó 11.17). Pelo contrário, “por muitas tribulações nos importa entrar no Reino de Deus” (At 14.22).
Passando por severa aflição, Jó chegou a julgar que Deus estava contra ele, talvez por ter silenciado. O Novo Testamento nos dá uma perspectiva mais completa a respeito do sofrimento do cristão, levando-nos até mesmo a gloriar-se no sofrimento. Aos Coríntios, Paulo assim escreveu: “fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos” (2 Co 1.8; Mt 5.10,11). Mesmo na aflição, o apóstolo não maldizia, mas, sim, bendizia a Deus, porque a sua presença e o seu Espírito estavam com ele para consolá-lo (2 Co 1.3,4,22).
Jó desabafa sobre a condição do homem, dirigindo-se também a Deus, questionando, como é possível a conduta de um homem ser sem pecado, quando o seu coração é, por natureza, inclinado a transgredir? Esta é uma prova clara de que Jó entendia e cria nesta inclinação ao pecado, e além de expor isso como defesa, pede que o Senhor não o trate conforme as suas próprias obras, mas de acordo com a sua misericórdia e graça.
III – DEUS JULGA E CASTIGA OS PECADORES
As desigualdades da vida, a prosperidade, o sucesso e a alegria de muitos ímpios, são questionadas por Jó. O Salmo 73 também destaca essa questão teológica. Em muitas vezes, os “limpos de coração” são “afligidos”, ao passo que os ímpios prosperam e não sofrem “apertos” (Sl 73.1-14). Deus responde, revelando o destino final, tanto dos justos como dos ímpios (Sl 73.16-28; Ml 3.18).
Jó se opõe, ao que os seus amigos sustentaram sobre a destruição certa dos ímpios nesta vida. Ainda que prosperam, são levianos, indignos e desprezíveis para Deus. No auge da pompa e poder dos ímpios, só existe um passo entre eles e a destruição. Jó refere-se à diferença que a providência marca entre um e outro ímpio em relação à sabedoria de Deus. Ele é o juiz de toda a terra.
A tese de Zofar é que a ruína da prosperidade de um homem demonstra que ele é um hipócrita. Porém, Jó não concorda. Se um ímpio morre em um palácio e outro em uma masmorra, no entanto, para ambos só resta o verme que não morre e o fogo que não se apaga (Mt 3.10,12). Assim, pois, não vale a pena confundir-se devido às diferenças vividas neste mundo. O que realmente tem valor é servir a Deus, independente das circunstâncias (Dn 1.8).
Os filhos de Deus, devem refletir o seu caráter demonstrando um amor sem discriminação, sejam amigos ou inimigos. Pois, o nosso Deus dirige o seu amor a todas as pessoas. Devemos aprender a obedecer ao Senhor e a confiar nele, ainda que atribulados; aprendamos a viver e morrer como agrada a ele: não sabemos para que fim proveitoso nossas vidas podem ser abreviadas ou prolongadas.
CONCLUSÃO
Jó é um dos maiores exemplos de firmeza e convicção, de apego à retidão e perseverança na fé (Tg 5.11). Sua determinação inabalável de manter a sua integridade e de permanecer fiel a Deus não tem paralelo na história da salvação dos fiéis. Nenhuma tentação, sofrimento, ou aparente silêncio da parte de Senhor, podia afastá-lo da sua lealdade a Deus e à sua palavra. Recusou-se a blasfemar contra Deus e morrer (Jó 2.9).
Assim também, o crente do Novo Testamento deve ter esta mesma e única decisão nas tentações, nas tristezas e nos dias sombrios da vida. Com uma firme convicção, devemos continuar resoluto na fé, estando firmes até o fim (Cl 1.21-23).