Escola Dominical – Comentário de apoio da Lição 6, do 4º trimestre de 2020 – A Teologia de Elifaz: Só os Pecadores Sofrem?
Aniel Ventura
Stanley Jones, evangelista americano, em uma análise a ação da graça de Deus no coração humano, faz esta célebre confissão: “A graça me comprou. A graça me ensinou. A graça me prendeu. Agora a graça me possui”. Hoje conhecemos esta maravilhosa doutrina, porém, até ao Século XVI, muitos cristãos sofreram por desconhecer a eficácia, o alcance e a transcendência da graça de Deus. Além dos teólogos romanos muitos posicionaram-se contra a doutrina da graça, alegando alcançá-la por meio de obras. A teologia de Elifaz em tudo era semelhante a essa teologia. Elifaz, o amigo de Jó ensinava comprazer-se Deus em um relacionamento meramente comercial. Se lhe fizermos o que nos pede nos mínimos detalhes, ele não permitirá nenhum mal vir sobre nós. Doutra forma, pensava Elifaz, como nos haveremos diante de suas cobranças?
I – OS PECADORES NO CONTEXTO DA JUSTIÇA RETRIBUTIVA
Como características orientais, Elifaz e seus companheiros ficaram calados sete dias, em sinal de respeito pelo amigo Jó. Tivera eles continuado o silêncio inicial, não causariam tantos males ao amigo. George Eliot zanga-se com isso e diz: “Abençoado o homem que, não tendo nada a dizer, se abstém de demonstrá-lo em palavras”. Buscando consolar a Jó, acrescenta-lhe amargura sobre amargura. Insinua que, se o patriarca sofria, era porque alguma falta cometera contra Deus. Mas quem era ele? Como veio a inserir-se num drama tão singular?
Por não possuir um conhecimento revelado de Deus, pôs-se Elifaz a condenar a Jó através de uma teologia casuística e viciada. Ele cria que os verdadeiros justos sempre prosperarão, e os transgressores sempre sofrerão, e inversamente, a pobreza e o sofrimento sempre subentendem pecado, ao passo que prosperidade e sucesso subentendem retidão. Deus revelou posteriormente que tal atitude é errônea, e que o ponto de vista dele era pura “loucura” (42.7-9). A teologia e a cosmovisão básicas dos conselheiros de Jó eram falhas. Aprendamos a desviar o pensamento dos que sofrem, para amenizar a aflição, para que olhem para o Deus das misericórdias em suas dores. Exemplo disso é quando olhamos para Cristo, em cujos sofrimentos foram inigualáveis, assim todo filho de Deus esquece os seus próprios sofrimentos rapidamente.
Elifaz fala de Jó e de sua aflição com ternura; porém, acusa-o de fraqueza e de ter o coração covarde, quanto a isso tomemos cuidados, pois, mesmo os amigos mais piedosos podem fazer de um simples arranhão, o que sentimos tornar-se uma ferida.
Jó reflete com seus amigos por causa de suas censuras. Queixa-se de não ter algo a oferecer por seu alívio, senão o que em si mesmo é insípido, aborrecível e aterrorizante.
II – OS PECADORES NO CONTEXTO DA TRADIÇÃO RELIGIOSA
Elifaz em seu segundo ataque, ao invés de abrandar as queixas do amigo Jó, o acusa injustamente de abandonar o temor de Deus e toda a consideração para com ele. Observe no que se resume a religião: temer a Deus e orar a Ele; o primeiro é o princípio mais necessário; e o último, o costume mais necessário.
Elifaz diz que Jó engana a si mesmo e despreza os conselhos e consolos dados por seus amigos. Acusa ainda a Jó de se opor a Deus. Elifaz não deveria ter interpretado duramente as palavras de alguém conhecido como piedoso, que agora encontrava-se em tentação. Esses causadores de polêmicas estavam convencidos da doutrina errônea do pecado original, e da depravação total da natureza humana.
Em mais uma metáfora jurídica, Jó apela para Deus, na esperança de que ele atue como seu Advogado. O emprego da mesma figura de linguagem no Salmo 119.121,122, indica o pedido do salmista para ser liberto de seus opressores, sugere que Jó rogava a Deus para demonstrar confiança em sua inocência.
III – OS PECADORES DIANTE DE UM DEUS INFINITO
Elifaz formula acusações ferrenhas contra Jó, sem motivos para as tais, salvo que Jó foi visitado da maneira como supunha que Deus sempre castiga a todo ímpio, considerando-o um opressor que causou danos com sua riqueza e poder no período de sua prosperidade.
Elifaz também queria que Jó identificasse o caminho percorrido pelos ímpios e observasse o seu fim. É bom que nós o observemos, para não andarmos por ele (Sl 1.1-6). Porém, se os demais são consumidos e nós não somos, ao invés de culpá-los e nos gabarmos, como fez Elifaz, devemos agradecer a Deus e tomar isto como advertência para nós. Entretanto, Jó por fim apela ao justo juízo de Deus em relação aos seus amigos. Ele deseja que sua causa seja julgada bem rapidamente. Referente aos sofrimentos presentes no mundo atual, podemos recordar que Cristo reconcilia consigo o mundo, e em um trono de graça mostra a sua bondade infinita (Rm 3.23; 6.23). O pecador pode buscar socorro nele, podendo ordenar sua causa diante dele com argumentos tomados de suas promessas, de seu pacto e de sua glória (Hb 2.17,18).
CONCLUSÃO
Elifaz, o dito amigo de Jó, pressupõe erroneamente que ele até então ainda não conhecera a Deus, e que a prosperidade nesta vida viria após a sua conversão sincera. O conselho que Elifaz dá a Jó, fundamentava-se em uma falsa suposição de que ele era estranho e inimigo de Deus. Cuidemo-nos de não caluniar os nossos irmãos, e se for a nossa sorte sofrer desta maneira, recordemos como Jó foi tratado e Cristo vilipendiado, para que sejamos mais pacientes. Examinemo-nos, para ver se há alguma razão na calúnia, e andemos vigilantes para estar limpos de toda a aparência do mal.