Nenhum pastor deve negligenciar ou mesmo ignorar esse tema, que tem questões relevantes a serem consideradas
Paulo Pontes
Com o passar do tempo ocorreram diversas alterações no processo de sucessão pastoral nas igrejas locais, nos ministérios regionais e nas convenções. Atualmente esse processo é bem diferente daquele que vinha sendo praticado em tempos passados.
Ao que parece, a sucessão pastoral entrou em outra dimensão, adotando formatação da política nacional com a formação grupos apoiadores dos candidatos. Não é preciso ir muito longe, ou nem mesmo sair de casa para constatar, basta acessar a internet e usar as ferramentas de pesquisas da web. Com certeza, quem pesquisar encontrará vasta informação sobre o assunto em várias denominações cristãs evangélicas.
Nenhum pastor, seja de igreja local, líder de ministério, ou de convenção deve negligenciar ou mesmo ignorar esse tema, que tem questões relevantes a serem consideradas.
A sucessão pastoral é uma fase decisiva e, portanto, é imprescindível que toda a igreja esteja unida, orando e participando do processo, ao invés de dividir-se em grupos partidários como na Igreja que Corinto, onde não se tratava de sucessão, mas alguns membros passaram a considerar certos ministros do evangelho mais do que o próprio evangelho (1 Co 1.10-31). Em sua missiva o apóstolo Paulo repudia e condena essa atitude que pode levar os irmãos à infidelidade aos princípios cristãos, e à divisão da Igreja de Cristo.
Assim como é fundamental a presença dos membros na assembléia (AGO ou AGE), é de igual modo importante que estejam cientes dos acontecimentos, dos relatórios, e que também conheçam o processo e os candidatos.
O pastor Geremias Couto escreveu um artigo em seu blog comentando a questão da sucessão pastoral no ambiente da Assembleia de Deus.
Leia na íntegra o artigo:
Por que a sucessão é um problema na Assembleia de Deus?A enquete, já encerrada, traça um quadro sombrio sobre como tem sido a percepção dos membros de nossas igrejas quando o assunto é sucessão pastoral. Embora não tenha rigor científico, como sempre reitero, foram 575 votos das mais diferentes partes do Brasil, o que nos permite fazer uma análise bastante real da situação. Para facilitar, repito aqui os dados: 1) 355 votantes (61%) acham que o problema é o apego ao poder. Creio que os líderes de nossa igreja deveriam parar um pouco para pensar sobre o tema, pois as nossas atitudes, regra geral, estão tendo diferentes interpretações do rebanho – bastantes desfavoráveis até – que, talvez, possam não refletir o que, de fato, vai em nosso coração, embora, em muitos casos, seja visível a predominância dos dois itens mais votados da enquete: apego ao poder e interesse em passar a titularidade do pastorado para o filho ou genro. É importante que cada um veja em que condição se encontra, sem que isso nos tire o direito de “passar a limpo” esse desafio que tão de perto nos afeta. No primeiro item não há muito o que discutir. O apego ao poder é danoso ao rebanho e se torna uma porta larga para a prática de tantas irregularidades que – um erro aqui, outro acolá – tornam cauterizada a consciência do líder que assim lidera. Ele só se mantém no cargo pela força do seu autoritarismo ou mediante a forma verticalizada em que a liderança é exercida através daqueles que recebem benesses para sustentá-lo na “cadeira papal”. É um “colégio cardinalício” oficioso dentro da igreja. O que importa é construir e manter o império. A conversão dos pecadores é apenas um detalhe. Esquecem-se que a Igreja é de Deus. No segundo item temos de considerar duas vertentes: a primeira tem a ver com o apego ao poder. O medo de que o comando da igreja caia em mãos de terceiros faz com que logo se prepare o filho ou o genro para comandar o “grande negócio” e, assim, manter tudo dentro de casa. Mas temos de olhar o outro lado da moeda, que pouco foi citado na enquete, e tem a ver com aqueles pastores que se gastam como verdadeiros sacerdotes, mas pouco se preocupam com o futuro. Quando chega a hora de passar o cajado, o medo de ficarem desamparados os leva ao mesmo comportamento: preparar o filho ou o genro para assegurar, pelo menos, uma velhice tranquila. Creio que os itens três e quatro acabam embutidos nos demais. De qualquer modo, o temor da nova geração sempre existirá. É um conflito permanente que só se acentua se a geração anterior não souber lidar com este processo irreversível, deixando de bem preparar os seus substitutos. A desconfiança do sucessor, por sua vez, pode ocorrer pelas razões há pouco explicitadas. Não é fácil abrir mão do poder se ele lhe traz benefícios, como também é difícil passar o bastão para alguém que, lá na frente, não terá escrúpulos em pisar sobre o antecessor jubilado. Com isso, muitas transições se tornam traumáticas e se não produzem reviravoltas maiores se deve ao fato de o povo assembleiano levar muito a sério a questão do respeito à autoridade. Entre outras, três coisas a ponderar:1) Bom seria se pudéssemos voltar há algumas décadas, onde a permuta de igrejas entre pastores era bastante comum. Parece utópico, mas não custa nada sonhar. Isso traz oxigenação, renova as energias, ameniza o desgaste, apresenta novos desafios e rompe com a possibilidade da eternização do pastor em um só lugar, criando para si um império particular. Cito como modelo apenas dois exemplos. O primeiro, Alcebíades Pereira de Vasconcelos, que começou no Piauí, onde passou por algumas igrejas, foi pastor em São Cristóvão, RJ, Belém, PA, e, por fim, em Manaus, AM, onde foi chamado ao descanso eterno. O outro é o do pastor José Pimentel de Carvalho, que pastoreou em Valença, RJ, foi co-pastor em São Cristóvão, RJ, dirigiu a AD da Penha, no mesmo Estado, e terminou os seus dias no pastorado da AD em Curitiba, PR. No modelo de hoje nenhum deles teria essa oportunidade. Os estatutos das igrejas, geralmente, não permitem. 2) Penso, também, que as Assembleias de Deus no Brasil precisam passar por uma reforma eclesiástica, visto que o que temos é um sistema híbrido. Numa região funciona de um jeito, noutra de outro, sem um mínimo de padronização. Muitos consideram utópica essa proposta, mas muitas coisas boas que hoje experimentamos nasceram da “utopia” de alguém lá atrás. O Novo Testamento sempre privilegiou as igrejas locais, sem essa hierarquização que hoje conhecemos. Quem dava amálgama a elas eram os apóstolos. A verticalização só começou a surgir em décadas posteriores e tomou a forma que hoje predomina na herança católica após a constantinização da Igreja. O que temos é um arremedo da mesma hierarquização, onde se começa como diácono, depois se vai a presbítero, daí a pastor, para então, tornar-se pastor supervisor e, por fim, se calhar, pastor-presidente. Sei que essas mudanças não são de curto prazo, mas acho que vale a pena começar para o bem do rebanho. 3) Entendo, por outro lado, que filhos de pastores (ou genros) não devem ser estigmatizados, como se não pudessem, também, ter a vocação pastoral. Esse é outro extremo. É óbvio que nem todos a têm e, por isso mesmo, não podem ser empurrados goela abaixo da igreja. Conheço alguns que levaram o trabalho à ruína. Ministério não é hereditariedade, como no Antigo Testamento. Mas aos que são chamados não lhes podemos negar o direito de se aprimorarem na vocação. Muitas vezes são os que menos querem, pois conhecem as lutas que o pai, como verdadeiro sacerdote, experimenta e não desejam trilhar a mesma senda. Mas quando Deus chama, não há saída. Ou obedecem ou sofrem as consequências. Em casos assim não é preciso forçar a barra porque a igreja percebe o chamado. Em outros, o filho acaba por não ficar na mesma igreja, pois Deus o leva para algum lugar distante para, ali, desenvolver a sua vocação. Enfim, espero de coração que a enquete nos ajude, como igreja, a refletir sobre o problema da sucessão e a encontrar o equilíbrio necessário para que o rebanho sempre saia fortalecido em momentos de transição. E que tenhamos de Deus o senso de saber a hora de pararmos. Geremias Couto |