Uma reflexão sobre a nossa práxis eclesial
Por Roney Ricardo Cozzer
Na Igreja Brasileira, vestimos nossos personagens.
Temos uma dificuldade enorme para aceitar as pessoas como elas são de fato. Se você é sincero, por exemplo, mesmo que de forma respeitosa e amorosa, será sempre visto como “persona nom grata”. E se prepare para o “boicote”…
Notadamente, preferimos que os problemáticos vão embora, ao invés de insistir com eles.
Nos acostumamos com caricaturas.
Veja! Os pregadores mais requisitados em nosso contexto pentecostal são aqueles que tem voz possante, usam ternos extravagantes e tem uma “eloquência” bem eloquente… Mas quando você os vê fora da tribuna parece estar vendo outras pessoas… Eles não são naturais ao púlpito: são atores!
E nossa liderança?
Como nossas igrejas e convenções foram tomadas por essa polidez ministerial tremendamente hipócrita e articulações político-ministeriais!
E com isso, vemos a função, mas não o homem por trás dela. Medimos força com o outro e não mais “levamos as cargas uns dos outros” (Gl 6.2), conforme nos ensina o Evangelho.
Encaramos o ministério como “plataforma” para autopromoção pessoal e visibilidade de nós mesmos e não como uma forma de serviço a Deus e à Igreja.
Almas ganhas para Cristo agora são estatísticas para o Facebook do pregador e o número de congregações deixou de ser sinônimo de expansão do Reino de Deus para ser encarado como estandarte da grandeza “do meu ministério…”.
Nossos valores estão cada vez mais invertidos.
Olha que coisa: preferimos investir num estranho que vem em nossa igreja e canta e/ou prega, sem que saibamos nada… absolutamente nada de sua vida e conduta (apenas que ele/ela é famoso) do que investir em pessoas que são “prata da casa” e que geram frutos duradouros para nossas igrejas, cujas vidas nós conhecemos, pois convivemos com eles. Você não acha isso estranho… tremendamente estranho? Não me tenha por grosseiro, mas eu diria até que isso é algo tresloucado…
A Assembleia de Deus, minha querida denominação, pela qual luto e trabalho, investe tanto em vidro, paredes, equipamento, eventos e mais eventos… Mas, e as pessoas? Nós ainda não temos, por exemplo, uma universidade assembleiana. Mas já temos uma operadora telefônica… (Bizarro!)
Eu, melancólico como sou, tenho enorme dificuldade para me encaixar nesse “padrão”. E como meu ministério tem por característica mexer naquilo que não é tão mexido, olhar aquilo que geralmente é posto no ponto cego, cada vez mais sinto-me como que sendo expelido da minha querida igreja. E isso, claro, não é um processo que ocorre às claras. Mas desconfio que já esteja acontecendo. Já percebo a rejeição. Noto os olhares inquisitórios. Sinto a ausência de pessoas que antes estavam comigo e agora “sumiram”. Se isso acontecer – eu for mesmo expelido da minha denominação -, sairei como alguém que lutou pela igreja, seja pela tecla, seja pelo ensino, seja pela oração, seja pelas lágrimas…
O que fazer?
A você que me lê, peço que não encare este texto como desistência ou desesperança de minha parte. Não! Que Deus nos ajude e nos dê graça para continuar. O que pretendo com este texto? Provocar uma reflexão em torno da nossa práxis eclesial. Que possamos fazer diferente com a pouca força que temos. E para finalizar, como gostam de dizer os nossos irmãos reformados (e eu aqui faço coro com eles): voltemos ao Evangelho!
Graça e Paz, querido irmão Roney
Fiquei extremamente feliz ao ler esse artigo. Me sentia como Elias, mas vejo que o Senhor tem preservado alguns que não se dobram diante do bizarro. Saiba que como nós, ainda existem os remanescentes fiéis.
Deus te abençoe.