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Pastor de igreja inclusiva vai lançar nova Bíblia para combater o preconceito gay

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Pastor de igreja inclusiva vai lançar nova Bíblia para combater o preconceito gay

 

Marvel de Souza é pastor em Brasília, tem 35 anos de idade e frequenta a igreja evangélica desde os 12. Possui formação em literatura inglesa, língua japonesa e teologia. A dedicação ao estudo das línguas sempre prosperou paralelamente aos trabalhos que desenvolvia na igreja e foi imprescindível para o desenvolvimento do seu principal projeto, a bíblia comentada “Graça Sobre Graça”.

Pastor de igreja inclusiva vai lançar nova Bíblia para combater o preconceito gayO trabalho consiste em reinterpretar o livro sagrado do Cristianismo com um aprofundamento sócio-histórico. Dentro desta perspectiva, trechos usados por pessoas religiosas para legitimar preconceitos são resinificados e os grupos marginalizados pelas igrejas tradicionais têm a oportunidade de exercer sua fé em um processo de reinserção eclesial. Este tipo de trabalho já é realizado em igrejas inclusivas e deve ser ampliado com o lançamento da bíblia comentada.

Foi este projeto que trouxe recentemente o pastor a Natal, onde ministrou um curso aberto ao público com a temática da inclusão eclesial e democratização das igrejas com a inclusão de negros, mulheres, LGBTs e pessoas com deficiência. O debate foi realizado na Igreja Cristã Misericórdia Graça, no bairro de Lagoa Nova, uma das três instituições que atuam de forma inclusiva em Natal. 

Marvel veio de uma igreja tradicional, onde sofreu retaliações quando assumiu publicamente sua sexualidade e seu relacionamento homoafetivo. “Eu era professor seminarista em Brasília. Quando assumi o meu namoro houve uma rejeição muito grande da igreja a ponto do pastor me oferecer uma carta de transferência para qualquer lugar para que eu não permanecesse ali. Ele disse que eu oferecia riscos”, relata Marvel.

Ele afirma que não se sentiu confuso nem passou por crises de identidade, mas declara também que havia pensado em manter o celibato até que conheceu seu atual esposo. “ A minha sexualidade aflorou naturalmente, mas houve uma época em que eu pensei no celibato por não conseguir me relacionar com o sexo oposto”, explica.

A partir destes questionamentos e da percepção de que a Bíblia era usada para legitimar opressões, o pastor começou a trabalhar o projeto “Graça Sobre Graça”. Seu propósito era não só ampliar a inclusão nas igrejas como trazer um aprofundamento sócio-histórico que permitisse uma reinterpretação da bíblia, desconstruindo o preconceito agregado ao livro sagrado.

A bíblia comentada é o terceiro livro de Marvel Sousa e ainda não tem previsão de lançamento. As primeiras publicações do autor são “Manual do Cristão Gay – Vencendo as crises” (2012) e “Incluídos Pela Graça” (2013). Ainda no ano de lançamento de seu primeiro livro, quando retornou do Japão, Marvel conversava com seu esposo sobre a igreja inclusiva que frequentavam e surgiu a ideia da bíblia comentada. “Ele sugeriu fazer um livro que esclarecesse essas questões que fazem com que diversas camadas da sociedade sejam marginalizadas dentro do meio religioso. Chegamos ao ponto de querer elaborar uma bíblia e começamos a descobrir como viabilizar isso”, conta Marvin.

A bíblia comentada “Graça Sobre Graça”, faz parte de um projeto com o mesmo nome e teve início ainda em 2012. O primeiro impasse foram os direitos autorais.

“A princípio fizemos o pedido de mil exemplares para produzir uma bíblia que trouxesse comentários sobre inclusão eclesial das pessoas homoafetivas, combate ao racismo, espaço das mulheres no cristianismo e inclusão de pessoas com necessidades especiais”, explica o pastor. Ele afirma que o contrato ficou pronto em 2014 e desde então os textos têm sido trabalhados. A bíblia ainda não tem data para ser lançada, mas já está com o trabalho gráfico em andamento.

Igrejas inclusivas

A ICMG (Igreja Cristã Maravilhosa Graça), que recebeu o pastor em Natal, é uma das três instituições inclusivas da capital potiguar. De acordo com Marvel, o último levantamento registrou 50 igrejas que atuam de forma mais democrática em todo Brasil. A pastora da igreja e psicóloga Kacia Torres afirma qua a ICMG já conta com aproximadamente 230 membros entre 18 e 65 anos.

Kacia enfatiza que a instituição assume todas as funções de uma igreja tradicional e que o diferencial é não só a inclusão de todas as pessoas como o aspecto psicológico que é perpassado pelas opressões.

“A nossa intenção é mostrar para as pessoas que elas têm direitos. Quanto mais falamos sobre isso, mais percebemos as barreiras que existem e o quanto elas precisam ser superadas. O que pretendemos é oportunizar a volta dessas pessoas para que possam praticar a sua fé e viver uma vida feliz em liberdade”, finaliza Kacia.

A pastora declara que sofreu preconceito dentro da igreja a que pertencia ao se declarar lésbica. “O processo de fé se tornou complicado. A primeira coisa que descobrimos é que somos anormais e essa palavra pesa muito. É como se não fôssemos qualificados para exercer a nossa fé. Soa até estranho dizer isso porque a fé é uma coisa muito pessoal, mas é assim que nos sentimos”, relata.

Após um processo de aceitação, ela conta que começou a buscar caminhos que possibilitassem o exercício da fé e foi assim que encontrou a igreja inclusiva.

O jornalista Kehrle de Souza é membro da ICMG e conta que no início sentia muito preconceito com relação à igreja inclusiva, mas que aos poucos esta realidade tem mudado. “Era como se as pessoas não aceitassem a nossa fé, não considerassem uma igreja. Aos poucos a gente vai percebendo uma abertura. Muitas pessoas fazem parte de grupos privilegiados, mas buscam a igreja inclusiva pela necessidade de discutir questões sociais de formas mais abertas”, explica Kehrle.

As histórias de Marvel e Kácia se confundem com a de Kehrle, que também procede de igreja tradicional e sentiu a necessidade de buscar uma instituição democrática ao descobrir a própria sexualidade.

Kehrle Souza começou a frequentar a igreja aos quatro anos de idade. No entanto, quando tinha aproximadamente 11 anos de idade se descobriu homoafetivo e sentiu receio de expressar sua sexualidade e sofrer preconceito.

“Eu via como as outras pessoas eram tratadas. Era sempre muito pesado e eu acabava não falando sobre a minha sexualidade ou os meus relacionamentos”, explica. Quando assumiu seu primeiro relacionamento, o medo se concretizou e foi quando buscou uma igreja inclusiva.

Além de Kacia e Kehrle, o pastor e psicólogo Jaime de Freitas também frequenta a igreja inclusiva desde a descoberta da sua sexualidade.

Publicado em Novo Jornal via Point Rhema

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