Por Daniel Buanaher
Eu era menino e tremia de ansiedade para ver um dos momentos que eu mais aguardava no ano. A peça de Natal. Como a maioria das crianças eu não conseguia fazer distinção entre ficção e realidade. Para mim toda aquela indumentária oriental era a mais pura realidade. As pessoas que conviviam comigo o ano todo se transformavam mesmo em pastores de ovelhas, anjo Gabriel, José e Maria e no menino Jesus. Eu nem precisava dar asas à minha imaginação, ela por si só já andava nas nuvens.
Meu coração batia forte e o rosto se enchia de alegria quando chegava o momento em que se ouvia um choro e uma criança aparecia numa manjedoura. Era Deus se fazendo menino!
Hoje, passadas algumas décadas, ainda me emociono diante das peças natalícias que retratam o nascimento de Jesus. E me questiono como pode um momento tão repetido ganhar novos contornos nas trincheiras da nossa alma e nos levar a cruciais reflexões? Todos os anos voltamos a mesma história, cantamos as mesmas canções, encenamos as mesmas peças teatrais, nos lembramos das mesmas personagens. A trama é a mesma, os elementos do drama são os mesmos; tudo é igual. Fosse o natal um filme qualquer, talvez pediríamos ao produtor que atualizasse a trama, justificando que ninguém mais aguenta ver a mesma coisa.
Mas porque, no natal, não assistimos a uma mera trama e nem celebramos a volta de um velho barrigudo, de barbas brancas, podemos ficar seguros que esses elementos ganham vida em Cristo Jesus. Pois é a celebração da entronização do eterno na história, o esvaziamento do verbo que por meio dEle tudo se fez. Que momento! Que cena! É o divino feito menino, envolto numa manjedoura que torna o natal algo novo e vivo, todos os anos.
E pensando nessa imagem do Deus que se faz menino que me lembro das palavras de Leonardo Boff:
“Todo menino quer ser homem.
Todo homem quer ser rei.
Todo rei quer ser ‘deus’.
Só Deus quis ser menino”.
Para mim, o poema de Boff capta muito bem o verdadeiro sentido do natal. Pois o nosso Deus é o ser divino, criador do universo, que aceita se humilhar e entra na história de forma tão vulnerável quanto uma criança. Fico pensando que os deuses das outras religiões não se submeteriam a tal demonstração de humilhação por amor. Isso pode até ser ridículo para os demais, mas para nós que percebemos o quanto custou o nosso resgate deveria estremecer a nossa base e adorá-lo incessantemente.
Diante disso, como não lembrar de Isaías 9.6 que afirma que: “Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz.” Aleluia!
Em Jesus temos o Deus menino revestido de humanidade, que tira suas vestes pomposas e as deixa no seu palácio suntuoso para mostrar de forma escancarada, sem protocolos, o quanto se importa com a raça humana. Para mim, essas sãos as boas novas de grande alegria que os anjos proclamaram naquela noite.
Neste Natal possamos nos dispor do espirito natalino, de amor e humildade. Neste Natal exorcizemos o individualismo; sejamos o consolo e a felicidade de alguém.
Feliz Natal.